terça-feira, 5 de setembro de 2017

Tamera – A viagem I



A vida leva-nos por caminhos interessantes a destinos inesperados.

É interessante ver que quando nos guiamos pelo nosso instinto o resultado é sempre positivo.

Vi-me dentro de uma comunidade chamada “Tamera” sem saber muito bem o que estava ali a fazer. Não sabia muito bem o que queria realmente retirar de uma experiência a viver por uma semana num local longe de tudo, em que a comunidade é regionalmente sustentável, fazem partos naturais, são Vegan, procuram aproximar-se o mais que podem da Natureza sem esquecer totalmente as tecnologias e usando-as a favor da sustentabilidade. Tinha ideia que queria aproximar-me deste mundo porque era o mundo em que me fazia mais sentido viver. No fundo ao entrar nesta realidade pensei que poderia sair de lá iluminada e que viesse a criar algo na mesma linha cá fora. Ou a pelo menos seguir um certo caminho ainda mais relacionado com a sustentabilidade.

Isso e o free love. A curiosidade que tinha em relação ao amor livre era muita, queria saber como é que as pessoas viviam com esse conceito, como faziam que resultasse sem andarem todos à pancada.

A semana que vivi em Tamera, foi uma semana profunda. Uma semana de meditação sobre o interior e exterior. Sobre nós e os outros, sobre a nossa alma e o mundo lá fora.

Interessante que em vez de ter ideias sobre sustentabilidade, o que tive foi vontade de fazer um caminho em direcção à paz. Não só interior mas exterior também. Tomei algumas decisões nesse aspecto que espero que me levem a um futuro cheio de esperança, trabalho e dedicação a uma causa que sempre teve dentro do meu coração.



Explicar o que se passa em Tamera é complicado mas tenho muito a agradecer-lhes.

Viver em Tamera a longo prazo talvez não seja o paraíso que todos pensem que é, é também um longo e árduo processo para que consigam viver todos em paz como comunidade, para que consigam ser mais e melhor a cada dia que passa, para que encontrem soluções para os problemas que a humanidade foi criando ao longo dos séculos, alguns desses problemas que nos acompanham desde que nos tornámos humanos e que se intensificaram com o aumento exponencial da população.



Existem vários temas que são abordados em Tamera, quero escrever sobre os mesmos. A comunidade fez-me ver vários temas com diferentes olhos, penso que sai de lá um pouco diferente. Com objectivos diferentes, sensações diferentes, perspectivas diferentes e certamente com uma maior paixão pela profundidade da vida.



(To be continued.)



AR

domingo, 3 de setembro de 2017

O encontro

Hoje conheci a Ana.

A Ana meteu conversa comigo numa paragem de autocarro no Porto.
Aproximou-se de mim e como se já me conhecesse começou a falar que podia ir a pé mas que as pernas dela já não lhe deixavam andar tanto e perguntou-me qual era o autocarro que parava naquela paragem. Depois respondeu à sua própria pergunta. Sorri e disse-lhe que ainda bem que ela sabia, porque eu não era do Porto.
A Ana falou um pouco mais sobre os autocarros e depois perguntou-me de onde era.
Eu respondi: - Lisboa.
Os olhos da Ana brilharam e comentou que ia a Lisboa várias vezes para ir ver exposições em Museus. E depois falou do MAAT, queria ir visitar o novo museu de Lisboa.
Entrámos no autocarro e a Ana perguntou-me para onde ia, disse-lhe que ia visitar Serralves e disse-lhe em que estação ia parar. Muito prontamente, ela disse-me que essa não era a estação mais próxima de Serralves. Levantou-se e foi confirmar com o motorista. Voltou, - Realmente essa não é a estação mais próxima. - Disse-me o nome da estação mais próxima.
Esbocei um enorme sorriso, agradeci-lhe e fiquei meio tonta com aquele gesto de bondade, humanidade, simpatia, empatia.
 Ela perguntou-me se ia até lá sozinha. - Sim. - Respondi.
A Ana sorriu.
Confessou-me que sempre que ia a Lisboa ia sozinha e que todas as suas amigas ficavam muito surpreendidas por ir tão longe sozinha, nenhuma queria juntar-se a ela. Contou-me que apanhava o comboio das cinco da manhã, passava o dia em Lisboa e depois voltava para o Porto. Levantou-se, tínhamos chegado à sua paragem. Perguntou-me o nome. - Ana Rita. - Respondi.
- Eu sou a Ana sem Rita.
Saiu do autocarro.
Não olhou para trás.
As portas fecharam-se e o autocarro começou a andar.
Despedi-me, em silêncio, do meu futuro eu.

AR

Buracas do Casmilo

Existem mil histórias para contar, o significado da vida para procurar, temas para debater, filosofias para apurar, relações para analisar, sentimentos para avaliar, problemas para desabafar e no entanto, sento-me, olho para o sol, fecho os olhos e fico a não-pensar.
De repente, já não existe nada para escrever.
Olho para a paisagem e sinto-me privilegiada.
Lembro-me que o estar aqui foi uma escolha minha e sinto orgulho.
Não posso criticar o meu trajecto, não posso pois foi tudo o que eu quis que acontecesse. Todo este caminho levou-me a estar aqui, agora. E como podia eu querer outra coisa?
Fecho os olhos porque o vento parou e fui conquistada pelo silêncio.
Por segundos senti a verdadeira beleza de se estar vivo.
Aos poucos o vento volta e é maravilhoso ouvi-lo voltar. A Natureza está a contar uma história e são realmente poucos os que prestam atenção. Sou feliz quando ouço a Natureza, sempre que o faço a vida faz mais sentido.
Em momentos como este esqueço-me de qualquer problema passado, presente ou futuro, esqueço-me que existem pessoas, esqueço-me até da minha própria existência.
Não há nada mais libertador que nos esquecermos da nossa existência e de tudo o que vem com ela.
Respiro fundo, respiro Liberdade e por momentos já nada mais interessa. A paz entra por todos os poros do meu corpo. Apetece-me ficar neste momento para sempre.

AR