quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Tamera - A viagem III

Parece que estive em Tamera há anos e ao mesmo tempo ontem.
Ainda há tantos temas para aprofundar. Tanta informação recebida que deixou-me a ponderar profundamente.
 Ainda hoje, tenho momentos de profunda reflexão sobre o que aprendi lá. São informações que no nosso dia-a-dia parecem não fazer sentido mas quando mergulhamos nelas sabemos que fazem tanto sentido como haver mar e terra.

Hoje decidi escrever sobre um tema, maioritariamente, feminino: depilação.
Em Tamera por todo o lado onde andávamos, víamos mulheres sem a depilação feita. Com vestidos coloridos, mulheres lindas, sorrisos genuínos e a bela da perna cheia de pêlos, a bela da axila também com os pêlos a crescer naturalmente.
Inicialmente ver isto e achar "bonito", "aceitável", foi complicado. Pensava nisto e eu própria julgava-me. 
Que raio de preconceitos são estes dentro da minha mente? - Pensava.
O mundo exterior, a sociedade quer fazer-nos acreditar que isto está errado. Que todas as mulheres devem depilar-se, sem pelinhos nenhuns que é para ser "bonito". 

Dei por mim a fazer a depilação às escondidas como se estivesse a cometer um crime e merda ter a noção do ridículo desta situação foi um bater com a cabeça na parede e acordar para a vida.
Interessante como, por mais que digamos que seguimos com a nossa vida sem olhar para a vida dos outros ou para o que se passa à nossa volta, somos sempre condicionados pelo que se passa à nossa volta e sentimos sempre que temos que seguir o que todos os outros fazem. Sem conseguir, por vezes, pensar no que realmente queremos para nós. 
O que é que realmente queremos para nós?

Que belo que era ver os homens e mulheres a aceitar qualquer pessoa como ela é. Eles aceitavam as mulheres com pêlos por todo o lado assim como aceitavam quem não os tinha. A liberdade de se ser como se quer. 
Este foi um dos grandes detalhes que me fez sentir que a vida de cada um de nós poderia ser muito mais fácil se não tivéssemos evoluído como evoluímos. Se não houvesse tanto preconceito, se não houvessem tantos julgamentos, se não houvesse um conceito de beleza generalizado que está longe de fazer seja quem for feliz.

Passado uns dias, olhava para estas mulheres, a dançarem com vestidos e todos os seus pelinhos à mostra e sorria.
Não conseguia parar de sorrir. Elas eram felizes, ninguém à volta delas comentava seja o que for. O corpo era delas, a decisão era delas e elas decidiram não contrariar a natureza. 
Todos nós em Tamera, facilmente aceitamos que contrariar a natureza é realmente parvo.
Somos todos defensores da Natureza, do rumo natural da vida.

Sem dúvida, que as pessoas mais belas são as que são felizes. Olhamos para o seu sorriso e sabemos que essa é a única verdade que interessa.

AR

  

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Um Novo Ano, um velho eu.

Ontem estava rodeada de desconhecidos, estávamos todos a conversar sobre o tudo e o nada. De repente, um deles pega no telemóvel e diz que não enviou nenhuma mensagem de ano novo a ninguém, que se calhar devia fazê-lo. Disse-lhe que enviasse à primeira pessoa de que se lembrasse naquele momento. Rapidamente disse-me que se lembrou da ex-namorada. Natural - respondi eu.

Após este episódio, fiquei a pensar. Fiz-me a mim mesma, a mesma pergunta. Tentei ver quem aparecia na minha mente. Debrucei-me sobre o assunto por mais segundos do que era suposto.
 Incrivelmente, um vazio.
Nem uma única pessoa brilhou nos meus pensamentos. Nem uma réstia de vontade de enviar mensagens seja a quem for. Nem família. Nem amigos. Nem ex-amantes. Nem nada.
Porém, não foi este pensamento que me surpreendeu. O que me surpreendeu foi a apatia com que pensava nisto tudo.
 Sei que em tempos este pensamento teria-me devastado. No entanto, naquele momento, não sentia absolutamente nada. Nem tristeza, nem solidão, nem decepção, nada.
Não soube, nem sei o que fazer com este nada. Embora, talvez seja a primeira vez na minha vida em que prefiro o nada à mágoa de uma felicidade que já não existe, de uma companhia que, provavelmente, nunca existiu, de uma compreensão e empatia que sempre andaram desaparecidas, de algo mais, que ao pensar sobre isso sempre foi tão efémero e fugidio. Como o tempo.

Talvez esta apatia venha do reconhecimento da minha própria culpa nisto. Temos o amor que damos. Se somos uma divisão de quatro paredes sem portas nem janelas estamos condenados ao vazio.
Agora, depois do reconhecimento a pergunta é simples: Queremos construir janelas e portas ou queremos pintar as paredes de outra cor?
A ponderar.

AR