sexta-feira, 7 de junho de 2024

Luz

 Não tenho a certeza de muita coisa nesta vida, mas estar na casa dos trinta e, finalmente, ter encontrado quatro amigas que são como irmãs é talvez o melhor presente que a vida me podia ter dado. Sofro um pouco sabendo que todas elas vivem tão longe, embora queira muitas vezes gritar a sorte que tenho pelos nossos caminhos se terem cruzado. Todas elas tão diferentes, no entanto, sinto que juntas, é possível que contenham o que eu sou. Por um lado o optimismo, por outro o ser prática, por outro prisma o ser meio-louca e por fim o querer estar em todo o lugar e mesmo assim querer encontrar alguém que nos acompanhe no movimento, no bicho-carpinteiro. 

Vejo cada uma de vocês na minha mente, volto às nossas últimas conversas e há uma luz difícil de apagar. Impossível pensar em vocês e não esboçar um sorriso. Sinto que cada uma de vocês adicionou à minha vida mais do que alguma vez poderia ter imaginado. A E. por ser um absoluto raio de sol, que tem um amor à vida extraordinário e que continua a seguir o seu coração, sem se interessar por o que os outros dizem que devia ou não fazer. A H. pelo seu coração puro e pela sua simplicidade que sempre nos leva de volta às coisas mais importantes da vida: o agora e as pessoas à nossa volta. A Ad. que com a sua posição na vida grita a meio mundo que cada um de nós pode ser o que quiser e fazer o que nos der na gana, e mesmo assim podemos filosofar sobre possíveis futuros e falar o quanto está tudo fucked up, ela mostrou-me que podemos ser fortes e, ao mesmo tempo, as criaturas mais frágeis à superfície da Terra. A An. que me provou o quanto não sabemos nada uns sobre os outros até alguém abrir a porta, até alguém abrir a cortina, até alguém mostrar um pouco da sua pele, o quanto podemos ser diferentes e mesmo assim estar lá umas para as outras, o quanto ouvir é importante, o quanto a vida é para não desistir, mesmo quando o nosso passado e a nossa mente não nos facilitou o processo.

Acho quase inacreditável o quanto aprendi com todas elas. Fico a pensar muitas vezes como era a minha vida sem elas, e merda, era muito pouco. Só de pensar que todas estas amizades têm menos de 4 anos, fico incrédula, pois sinto que as conheci toda a vida, sinto que todas elas são parte de mim. 

Se um dia deixarmos de falar por alguma razão sei que se as voltar a encontrar será uma alegria imensa, será como voltar a ver um pedaço da minha alma.

Vim agradecer. Sinto-me extremamente sortuda e acredito piamente que foram elas que fizeram com que me tornasse uma melhor pessoa, sei que tenho mais confiança em mim por causa de vocês, com vocês consigo melhorar o que sou sem deixar a minha essência. É interessante que já nem me lembre quem era antes de vocês aparecerem na minha vida. Nunca vos poderei agradecer devidamente.

Espero que tenha oportunidade de vos ver e abraçar várias vezes ao longo da vida e espero que saibam o quanto são importantes.

A transbordar.

Em dias como este penso o quão ridícula é a minha insatisfação em relação a tudo o resto.

Em dias como este, sinto, genuinamente, its enough.

*

AR

 

Recuso-me

 Interessante.

A mudança de estados de espírito. 

 Ontem, hoje e amanhã podem ser exatamente iguais: o mesmo desespero; a mesma alegria; ou podem ser tão diferentes como o planeta Terra e Marte. 

Por vezes sinto que não controlo absolutamente nada, nem mesmo as minhas ações. Sinto que tudo se movimenta ao sabor do vento, depende se o sol brilhar mais ou menos, se encontrar pessoas a sorrir ou a gritar, se falo com as pessoas certas, se ouço as palavras mágicas, se aparecem os pensamentos positivos, se tenho bons sonhos ou pesadelos ridículos na noite anterior...

Logo, se tudo é tão maleável, esporádico, fugidio, efémero, aleatório... então... nada precisa de ser nada. A importância que podia tudo ter, resume-se a emoções que não são permanentes. E se nada é permanente, por que me chateio? Por que vou aos extremos tantas vezes? 

Mas não, recuso-me a neutralizar, a apatizar, a serenizar.  Merda para isso.

Quero acreditar que a moral do que a nossa alma diz que é importante, é realmente importante. Quero acreditar que a magia pode durar um pouco mais. Quero acreditar que um sorriso genuíno nunca deixará de ter sido genuíno, mesmo que seja só uma memória. Quero acreditar que apesar de tudo e do que nos querem fazer pensar, nem tudo precisa de ser passageiro. E mais importante do que esperar pelo bom, pela felicidade, pela alegria, pela magia, o mais importante é construirmos um mundo nosso que faça sentido para nós próprios.

Tudo muda, mas a nossa essência deverá ser só uma e mantê-la tornou-se o maior desafio dos nossos tempos, ao mesmo tempo que o mais crucial de todos para que nos mantenhamos sãos neste mundo lunático em que vivemos.

AR


domingo, 4 de fevereiro de 2024

Relativizar

Quando tudo parece sem saída, é importante relativizar. Ainda estamos vivos, ainda existe a possibilidade de encontrar uma solução. A gravidade de cada situação não está representada exteriormente, mas sim interiormente. Através dos nossos olhos, do nosso prisma, da nossa mente, podemos tornar tudo possível ou tudo impossível. Olhamos, analisamos, avaliamos, formulamos conclusões que são sempre um conjunto de elementos muito nossos. Abstraírmo-nos de nós próprios e formular conclusões neutras é quase impossível. Sair da nossa mente e das ligações que a mesma interliga é a missão mais desafiante de todos os tempos. Quando decidimos algo, ou agimos, ou temos uma reação, é sempre pouco completo. Nunca teremos todos os dados a nosso dispor, nunca temos todas as alternativas disponíveis, não conseguimos ver o panorama geral. Somos uma ínfima parte do universo. O que fazemos ou dizemos é absolutamente inútil. Só conseguimos que algo seja útil se unirmos esforços, se interligámos vários cérebros que juntos cheguem um pouco mais longe. 

Quando tudo parece fugir ao meu controlo, eu respiro e penso que, na verdade, a sorte não me pode acompanhar para sempre. Depois, penso melhor, não tem sido só sorte. Quero acreditar que soube escolher caminhos que me facilitaram a vida, que me trouxeram sempre a um porto diferente e rico. Tem sido, usando a palavra mais positiva, interessante viver esta fase de desespero. Tantas pessoas a vivem todos os dias das suas vidas. Saber disto podia dilacerar-me, no entanto, respiro e sinto que é positivo saber agora o que tanta gente sente. Estou mais próxima destas pessoas, sinto mais empatia. 

Ao sair do buraco, não vou sair a mesma pessoa. E essa lição, como todas as outras, é essencial para que no futuro a pessoa que sejamos, seja uma melhor versão. Enquanto se caminhar para uma melhor versão, nada está perdido, nada é assim tão grave, nada é o fim do mundo. Mau seria a morte. Tudo o resto tem solução.

AR

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Aconchego de alma

Interessante. 

Para escrever sobre a merda estou sempre pronta, para escrever sobre buracos negros, sombras, desencontros, azares, dificuldades, fricções e caos, para isso estou cá eu.

Agora, escrever sobre o amor, bah, a falta dele consigo, a merda que é sentir, sim, sim, a dor, sem problema. Agora, escrever sobre momentos felizes, encontros de almas, filosofias que se unem e sorrisos que se esboçam ao mesmo tempo que um abraço se transforma em paz, isso não, isso não cabe dentro das minhas palavras, não sai dos meus dedos, não se expressa da minha mente, pois não é permitido dentro do meu coração.

O meu mecanismo de defesa é robusto e implacável, podia dizer que não me está a ajudar agora, mas seria mentira. Na verdade, tem sido o meu melhor amigo. Para além dele, sinto que também já existe uma memória seletiva, talvez seletiva demais. E sabendo que nem todas as luzes se desligaram aqui dentro, sabendo que afinal algo está 100% acordado, olho para o lado, finjo que não aconteceu, não abraço o sentimento, não agarro as memórias, não me deixo perder nas possibilidades.

A verdade é que somos adultos no século XXI, ser adulto neste século é uma merda. Podia dizer vinte mil e uma razões que fizeram este século uma merda, mas neste caso o que interessa é que queremos ser livres. Temos medo do contrário, confiamos pouco no outro, mesmo que o amemos. Por vezes nem em nós mesmos confiamos. Este século ensinou-nos que tudo é efémero, nada é permanente. Ouvi-te dizer isto e pensei se deveria ficar revoltada ou feliz. E acabei por pacificamente misturar tudo e ser durante um tempo o caos da mistura entre a revolta e a felicidade. Depois (porque há sempre um depois), fiquei apática outra vez. Existe uma diferença, existe agora esperança em mim, no entanto, voltei a um espaço de introspeção. Viver a vida exterior com pessoas normais é pacífico, embora eu seja muito mais eu quando estou contigo, quando estamos a discutir filosofia, sonhos, futuros e universos. Quando gritamos, e rimos, e debatemos, e ensinamos coisas um ao outro. Talvez não seja uma possibilidade um futuro a dois, talvez juntos sejamos demasiado. Num mundo de inúmeras possibilidades, qual seria a probabilidade de nos escolhermos? Como te disse, problemas deste século. Existem demasiadas alternativas. E a liberdade, a liberdade ainda reluz mais do que qualquer outra coisa. A felicidade ainda vem tanto dessa liberdade. O que sabemos nós do amanhã? Dizes viver o presente. Como anteriormente, tanto revolto-me como entendo. Esse lema podia ser meu. É o que tenho feito. E, na verdade, apesar de não me arrepender e de ter sido tanto... Depois de vários anos, perguntou-me, se não será hora de pensar em viver, a pensar no futuro, o que quero para mim, com quem quero estar, o que quero fazer, como quero lá chegar. Já sei, já sei, a vida troca-nos muitas vezes os planos, não tenho um problema com isso, o meu problema consiste, exactamente, em chegar aos 40 anos e sentir que devia ter feito outras coisas, estar noutro lugar, que devia ter lutado mais, estruturado mais, colocando mais objetivos. Sim, ir com a maré tem as suas coisas boas, também aprendemos muito sem dúvida, mas talvez haja uma perda de identidade, de conquistas, de foco, de tempo.

Com isto tudo, vim, na verdade, escrever o quão te conhecer foi importante: um pequeno milagre. E que tenho saudades dos nossos abraços. A tua viagem interior foi a minha, e por mais longe que estejas e mesmo que deixemos de falar, sinto que existe um aconchego de alma só em saber que existes. E como isto é tão raro, vou aproveitar para agarrar este momento, e mesmo que o meu mecanismo de defesa atue, mesmo que a memória falhe, mesmo que a vida se encha de pequenos nadas ou grandes nadas, tenho agora dentro de mim a sensação de preenchimento interior. Estou sozinha, mas não estou sozinha. Curioso. E, portanto, estou em paz. E se o amor não é isto, então não sei o que será.

AR

domingo, 24 de dezembro de 2023

Disconnected

 Love isnt the same concept it was many years ago. Time changes everything and your perspective and what exactly you feel changes over time. Also other things become more important. Priorities change. 

And now I look at all of you, and even though I would like to say I love you all or at least I love one of you. Once again I want to let you be. I want to let me be. Once again I dont want to dive into anything, once again I dont feel I have the energy for any of this. So I clock out. I stop thinking about any of you. I could be angry at myself but I am not. I dont care. I dont care anymore. And not hurting feels good and bad at the same time. I disconected something in me, that I am not sure if I will ever be able to connect again. 

What I know is that I am ready for a new year.

AR

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Letting go

 The light is easier to find than what we thought.

It doesn't need to come with fireworks, celebrations and trophies.

Happiness isn't an intense and permanent feeling.

Nothing is permanent.

The changes are life itself,

without them, there is no point in living.

The small things are the big things.

But people tend to always look the other side.

We sabotage ourselves often,

there is a chance we are better at that than anything else.

People are weird, complicated, complex, fucked up, crazy, impossible...

And still...

I shine with each new interaction.

The unknown is still hope.

As I am not entirely sure what I mean.

At least I am showing up, sharing, caring...

At least I am still here.

Now, being here has been peaceful,

Better than the unknown.

So, maybe, just maybe, I can breathe now.

And starting to let go of my old me.

AR


 

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

A possibility

 I've been wondering what has been missing. And it stroked me fast as a lightning bolt. I never felt I needed rainbows, babies, stars and butterflies. Even though it has been clear that I need at least the sensation of the possibility. Sometimes not one but many. All at once. All the possibilities that can fit in one's mind and soul... How many would that be?

There are moments where I get lost in people's eyes. I navigate them, and look for something that is beyond words. Maybe many people get scared with the way I look at them, it's possible that I am trying to get to a part of them that they don't want to show. It's possible that I have been asking too much of everyone around me.

On the other day, in between stories, I found at least somebody that makes the uncomfortable questions. At least their eyes were present, at least for a couple of hours I felt seen. Although, when I go back to it in my memory I remember my eyes everywhere, almost like not knowing how to navigate the same channel as before. Because trying to get lost in somebody's eyes can be painful, can be a maze where we dont know if we will find the way out. So on the other day, I didnt get too lost. I realized that now I am the one that is scared. My eyes rolled everywhere, they wanted to see everything around because if I am still aware of all around me, I can't get too lost. 

Part of me is content, the other part of me disappointed. Part of me understands and comforts me, the other part of myself gives me a slap and whispers: "Don't run away from the raw person you are, the only way to truly live is to be your truest version, even when it hurts."

AR