Antes escrever libertava. Tantas vezes a vida não fazia sentido e ao escrever parecia que tudo ficava mais fácil, menos complexo.
Agora escrever custa. Custa mais que muitas coisas complicadas. E não liberta; aprofunda e sufoca.
Sei que o que mudou não foi a escrita mas sim a visão, o toque, a amargura, a falta de esperança, a falta de tempo, o viver. Sei que vivi mais. Porém, a vida não teve grande significado. Tinha mais antes, em que as palavras tinham sentido, a dor era analisada, as histórias eram contadas. A escrita trazia-me algo de transcendente que aliviava-me, alegrava-me, sustentava-me.
Agora não sei. Agora parece que as palavras não gostam de mim, não consigo ver para além do óbvio, escrever para além do básico.
Por um lado parece que já escrevi tudo o que interessava. Como se não interessasse escrever mais nada.
E no entanto, tantas vezes olho para uma paisagem e apetece-me descrever todas aquelas cores, tantas vezes vejo sofrimento alheio e apetece-me arranjar palavras para o expressar, tantas vezes a vida traz-me surpresas e eu gostava de as passar para papel. Como se só assim houvesse uma confirmação que tudo aconteceu, que estive ali, que vi aquilo, que senti, que estou viva. No entanto, já não o faço. Penso nas palavras e perco-me.
Perdi-me sim quando parei de escrever, quando parei de analisar, quando parei de pensar. Não pensar, não escrever, tornou a minha vida um conjunto de acontecimentos ao acaso, sem qualquer sentido ou significado. Não estou arrependida, vivi outras coisas, mas não é aquilo que quero ser, não sou essa pessoa.
Quero voltar a escrever, quero voltar a ter aquela inspiração que me fazia ser mais quando não havia nada na vida exterior. Quero voltar a saber expressar o vazio. Sabendo agora que o nada tem muito mais para dizer que o tudo. O tempo faz falta, ter tempo faz falta, sofre-se mais mas no fundo é-se mais.
Tenho saudades de ser.
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