segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Quero voltar aos países onde fui feliz. Quero ficar parada a fazer amigos. (?) Quero conhecer países novos.
 Quero fingir que sou normal. Quero continuar a ter este trabalho. Quero ter um trabalho que me permita ter hobbies. Quero ter tempo para escrever. Não quero parar de viajar. Quero amor. Não quero esperar por ele sentada. Quero voltar lá. Quero uma casa. Mas não quero sentir me isolada. Quero ler mais. Quero voltar ao ginásio. Quero mais uma viagem. Estou cansada da viagem. Estou cansada de estar quieta. Quero pessoas à volta. Já não posso com as suas vozes e com a sua não-companhia. Quero ser feliz. Mas não consigo ver que caminho tenho de escolher para sê-lo.

Fucked up me. Always here. When I am not there.

AR

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Decisões

Ser adulto é uma merda e no entanto é tudo aquilo que sempre quis. 
Sempre quis ter a liberdade que tenho agora. E durante uns anos fui feliz (?) ou pelo menos mais feliz que agora. 
Esta cena de ser adulto à séria e ter que tomar decisões é uma merda.
Tenho ideia que não cresci, que fiquei ali na adolescência a contorcer-me com todos os cantos bicudos da vida, a contorcer-me com todas as tragédias da humanidade, a contorcer-me com todas as mudanças que um novo dia trás, a contorcer-me também com todas as rotinas, em suma a contorcer-me a cada respiração. 
Fazia sentido na adolescência, é disso que é feita a adolescência, todas essas dúvidas, todos esses medos, todas as lamurias, furores, gritos de revolta, lágrimas... Agora não, agora já não pode fazer sentido, agora devia ser um caminho para a calma, para a certeza, para a estabilidade, para o pranto, para a os pés à lareira, para... Nunca quis nada dessa treta. Nem quero exactamente isso agora. 
Tenho ideia que a sociedade obriga-nos a escolher um caminho ranhoso e não existe nenhum caminho à minha medida. Não quero nada do que a sociedade me propõe. Pego nos papéis, rasgo-os aos bocadinhos, espalho-os pelo ar, dou um berro e vou a correr dar um mergulho.Olho à minha volta e estou sozinha no mar. Outra vez.
Portanto o que faria sentido seria ter juízo, pegar nos papéis, assinar alguma coisa e ficar quietinha. Não sei fazer isso, não sei como. A palavra quieta durante mais de uns meses dá-me comichão.
Decisões... Até quando consigo eu fugir delas sem me lixar à séria? E não será que já me lixei mais que uma vez? Quantas vezes já boicotei a minha própria felicidade? E até quando o continuarei a fazer?
Deveria ser a única com essas respostas, deveria querer ser feliz. Mas começo a duvidar da minha alma, começo a duvidar de toda a inteligência que parecia possuir, começo a duvidar da minha estrutura, do meu espírito, começo a duvidar das ligações dos meus neurónios, começo a duvidar da vida.
E posso não saber muita coisa mas sei que duvidar da vida é o meu ponto mais baixo e mais cego de sempre.

AR

domingo, 30 de setembro de 2018

Há muito tempo que estou em silêncio. Sempre que paro para pensar apetece-me chorar. Tenho ideia que estou a fazer algo errado. Tenho ideia que dou passos sem saber porque os dou. Porém quando não penso a vida é bela. Os sorrisos das pessoas fazem-me sorrir, as suas gargalhadas deixam-me feliz, os seus olhares e as suas palavras de apreço fazem-me continuar. No fim a vida é realmente bela e há tanto ainda para conhecer. Sei que o melhor é em olhar em frente e apreciar cada momento como o milagre que ele é.
Quando olho à minha volta e vejo tanto, sinto tanto, sou feliz. A viajar sou feliz. Me encho de cores e de vivências. Esqueço-me de mim, não me ouço, não me vejo, não me sinto. O mundo é tão belo, só me quero perder nele todos os dias, para sempre.
AR

quarta-feira, 20 de junho de 2018

A primeira hora em que o filho do sol brincou com chumbinhos

"Meu querido, as árvores falam. Os tigres correm olimpíadas em pistas muito mais incríveis do que aquelas feitas de cimento laranja. Usain Bolt vezes cem, o sorriso de Usain Bolt vezes mil. A matemática não é difícil se você comparar tudo ao aparecimento de um cardume. Alguns frutos nascem do chão, outros caem dos ramos. É preciso estar atento. Certas canções despertam em nós a vontade de uma história que já aconteceu mas que não vai acontecer mais. Algumas histórias têm a duração exata de uma música rock, outras se dividem em cantos. No intervalo dá para comprar pipocas. Poucas pessoas contaram as riscas de uma zebra, mas todos os que o fizeram regressaram diferentes. O alvo de um humano está no terceiro olho e um dia alguém vai explicar para você como o afagar e onde fica. Nunca aponte ao terceiro olho, com aquilo é só cuidados. Algumas vezes vão te empurrar e você vai empurrar de volta, provavelmente vai até querer pegar uma pedra para jogar no peito de quem te feriu. Isso não está certo, mas é humano. Quase tudo o que é humano é justo, não deixe que ninguém te diga o contrário - só não vale enfiar o dedo no tal olho porque isso é igual a matar. A morte é o contrário de justiça. Os peixes respiram debaixo de água e se você mergulhar entre as rochas e se concentrar muito também vai conseguir. Ah é: os peixes brilham mais que as chamas, e alguns deles vão morar dentro de seus pulmões. Segure-se. Faça por polir seu riso, principalmente ao entardecer. Afine diariamente a pontaria e reze para que nunca seja necessário o disparo. Não existe proteção melhor do que a consciência de que podemos decidir atirar ao lado. Sim, daqui a muitos anos você vai conseguir acertar direitinho nessa lata de coca-cola que a gente suspendeu no sobreiro. Só acho que não vai querer. Também vai saber por que razão é melhor segurar uma arma descalço - é que é na terra que está a consciência do mundo, e é preciso escutar o seu ruído para agir em verdade. Saiba também, querido, que muitas vezes a sombra de um desenho é bem mais bonita do que o desenho que está à vista. É preciso estar atento, e descobrir o bichinho que se mexe debaixo da folhagem. Não o mate: se cubra de flores e entre para brincar com ele."

Texto escrito em Português do Brasil e Português de Portugal misturado.
Autora: Matilde Campilho
Livro: Jóquei

Notícias escrevinhadas na beira da estrada

"Não sou de choro fácil a não ser quando descubro qualquer coisa muito interessante sobre ácido desoxirribonucleico. Ou quando acho uma carta que fale sobre a descoberta de um novo modelo para a estrutura do ácido desoxirribonucleico, uma carta que termine com "Muito amor, Papai". Francis Crick achou o desenho do DNA e escreveu a seu filho só para dizer que "nossa estrutura é muito bonita". Estrutura, foi o que ele falou. Antes de despedir-se ainda disse: "Quando você chegar em casa vou te mostrar o modelo". Isso. Não esqueça os dois pacotes de leite, já agora passe a comprar pão, guarde o resto do dinheiro para seus caramelos, e quando você chegar eu te mostro o mecanismo copiador básico a partir do qual a vida vem da vida.
Não sou de choro fácil mas um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos me comove. Cromossomas me animam, ribossomas me espantam.A divisão celular não me deixa dormir, e olha que eu moro bem no meio da montanha. De vez em quando vejo passar os aviões, mas isso nunca acontece de madrugada - a noite se guarda toda para o infinito silêncio. Algumas vezes, durante o apuramento das estrelas, penso nos santos que protegem os pilotos. Amelia Earhart disse que não casaria a não ser que fosse assinada uma tabela de condições e essas condições implicavam a possível fuga a qualquer momento: "I cannot guarantee to endure at all times the confinements of even an attractive cage." Vai passarinho. Soube de uma canção cujo refrão dizia I Would Die For You, fiquei pensando que mais da metade das canções do mundo dizem isso mas eu nunca entendi isso. Negócio do amor e morte, credo. Lá na escola eles ensinavam que amor são sete vidas multiplicadas, então acho que amor é o contrário do fim. Sei lá, o mundo está mudando tanto. Não sou de choro fácil a não ser quando penso em determinados milagres que ainda não aconteceram. Meu time ganhou por três a dois. O maior banco norte-americano errou, e errou em muitos milhões. Ninguém chegou a falar do aniversário do Superman, e  isso também conta como erro. Faltam seis dias para a primavera, está tendo uma contagem comunitária na aldeia mais próxima daqui. Acho que está chegando a hora do sossego, e que muita alegria vai pintar por aí. Acho que uma palmeira é muito mais bonita do que uma carabina, mas não sei se vem ao acaso. Nenhuma palavra quer ferir outras palavras: nem desoxirribonucleico, nem montanha, nem canção. Todos esses conceitos têm seus sinónimos simplificados, veja só, acído desoxirribonucleico e DNA são exatamente a mesma coisa,e o resto das palavras você acha. É tudo uma questão de amor e prisma, por favor não abra os canhões. Quando Amelia morreu, continuava casada com Putnam - suspeito que ela deve ter visto rostos incríveis nas estrelas. Que coisa mais linda esse ácido despenteado, caramba. Olhei com mais atenção o desenho da estrutura e descobri: a raça humana é toda brilho."

Texto escrito em Português do Brasil e Português de Portugal misturado.
Autora: Matilde Campilho
Livro: Jóquei

terça-feira, 29 de maio de 2018

Buraco negro

Querendo acreditar que a vida é mais do que relações humanas, sei agora que não.
Não podemos fugir do que somos. Podemos tentar, de todas as vezes sem sucesso.
Acho que entendi realmente o que me deixa infeliz. 
Este nada que me sufoca sempre que penso no passado.
Este nada que me sufoca sempre que penso no presente.
Este nada que me sufoca por não imaginar um futuro.
É difícil de admitir: Nada sou. Nada tenho. Nada fui. 
Passo os meus dias a fazer um esforço para aceitar o nada. Consigo por momentos, por vezes dias, até ser engolida pelo vazio.
O vazio engole-me tantas vezes que há dias em que me desintegro totalmente.
De todas as vezes tenho um trabalho extenuante a procurar todas as peças e a uni-las outra vez da melhor forma que consigo. 
Este cansaço que me persegue desde que me lembro de existir, é um cansaço denso, um cansaço de quem viveu cem anos e viu de tudo. Um cansaço de quem viu tudo mas não viveu e o que viveu já se esqueceu.
Sei que este vazio está dentro de mim. Quero acreditar que está fora, que é tudo influências externas, tudo culpa de outrém. Quero acreditar que vou ser feliz com o que a sociedade nos faz acreditar que precisamos para ser felizes. No entanto, sei melhor que isso.
 Sabendo pouco, sei que tenho de conseguir lidar com a minha solidão, pois ela foi criada por mim, por várias razões que ainda não sei bem enumerar nem explicar.
Mesmo quando a vida não tinha sentido nenhum, que aconteceu muitas vezes, sempre teve mais do que agora. Sabendo isso, não sei se hei-de chorar, rir, correr, fugir, gritar ou esquecer estes pensamentos que não me levam a lado nenhum e ir dormir.
É, ir dormir parece-me uma boa opção.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Com sorte

Queria um pouco de compreensão,
Ou será que só quero amor?
Embora não entenda para que serve o amor,
Sem compreensão.

O mundo parece tão grande,
E é tão pequenininho.
Parece que não,
Mas cabe tudo na palma das nossas mãos.
Podemos esmagá-lo ou deixá-lo respirar.

O ar tem andado pesado ultimamente...
Não sei se é falta de empatia, falta de euforia ou falta de sexo.
É certamente falta de alguma coisa.
Há sempre lacunas por preencher.

Não me peçam sentido.
Quase que choro.
Olho para o céu, respiro fundo e dou um passo. 
Só encontro paz no movimento.
Felicidade essa é mais complicada de achar.

Desistir é para os fracos. É para os que têm medo.
Não estou nessa lista. 
Com sorte não estou em lista nenhuma. Com sorte não estou em lado nenhum.
Com sorte ninguém sou.
Com sorte...

AR

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Sem rumo


Quando te apercebes que já não sabes te comportar à volta de pessoas. E crias conflitos sem querer. Quando tudo te irrita, te cansa e te deixa esgotada. Quando só queres mandar tudo e todos à merda sem razão aparente.
É ai que sabes que não estás bem e que precisas de desaparecer por um tempo. Talvez por muito tempo. O tempo necessário para deixar de ser quem sou. E passar a ser um eu que está aqui dentro e não consegue sair.
O que sou agora magoa me muito. Não quero ser mais nada. Só quero ir. Ir e fugir outra vez. As vezes que for preciso. Até fazer sentido. Qualquer sentido. Pode ser um sentido pequenino. Pode ser qualquer coisa: Uma ideia. Uma esperança. Um projecto. Uma aposta. Qualquer coisa.
Vida dá me qualquer coisa...

AR

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Tamera - A viagem III

Parece que estive em Tamera há anos e ao mesmo tempo ontem.
Ainda há tantos temas para aprofundar. Tanta informação recebida que deixou-me a ponderar profundamente.
 Ainda hoje, tenho momentos de profunda reflexão sobre o que aprendi lá. São informações que no nosso dia-a-dia parecem não fazer sentido mas quando mergulhamos nelas sabemos que fazem tanto sentido como haver mar e terra.

Hoje decidi escrever sobre um tema, maioritariamente, feminino: depilação.
Em Tamera por todo o lado onde andávamos, víamos mulheres sem a depilação feita. Com vestidos coloridos, mulheres lindas, sorrisos genuínos e a bela da perna cheia de pêlos, a bela da axila também com os pêlos a crescer naturalmente.
Inicialmente ver isto e achar "bonito", "aceitável", foi complicado. Pensava nisto e eu própria julgava-me. 
Que raio de preconceitos são estes dentro da minha mente? - Pensava.
O mundo exterior, a sociedade quer fazer-nos acreditar que isto está errado. Que todas as mulheres devem depilar-se, sem pelinhos nenhuns que é para ser "bonito". 

Dei por mim a fazer a depilação às escondidas como se estivesse a cometer um crime e merda ter a noção do ridículo desta situação foi um bater com a cabeça na parede e acordar para a vida.
Interessante como, por mais que digamos que seguimos com a nossa vida sem olhar para a vida dos outros ou para o que se passa à nossa volta, somos sempre condicionados pelo que se passa à nossa volta e sentimos sempre que temos que seguir o que todos os outros fazem. Sem conseguir, por vezes, pensar no que realmente queremos para nós. 
O que é que realmente queremos para nós?

Que belo que era ver os homens e mulheres a aceitar qualquer pessoa como ela é. Eles aceitavam as mulheres com pêlos por todo o lado assim como aceitavam quem não os tinha. A liberdade de se ser como se quer. 
Este foi um dos grandes detalhes que me fez sentir que a vida de cada um de nós poderia ser muito mais fácil se não tivéssemos evoluído como evoluímos. Se não houvesse tanto preconceito, se não houvessem tantos julgamentos, se não houvesse um conceito de beleza generalizado que está longe de fazer seja quem for feliz.

Passado uns dias, olhava para estas mulheres, a dançarem com vestidos e todos os seus pelinhos à mostra e sorria.
Não conseguia parar de sorrir. Elas eram felizes, ninguém à volta delas comentava seja o que for. O corpo era delas, a decisão era delas e elas decidiram não contrariar a natureza. 
Todos nós em Tamera, facilmente aceitamos que contrariar a natureza é realmente parvo.
Somos todos defensores da Natureza, do rumo natural da vida.

Sem dúvida, que as pessoas mais belas são as que são felizes. Olhamos para o seu sorriso e sabemos que essa é a única verdade que interessa.

AR

  

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Um Novo Ano, um velho eu.

Ontem estava rodeada de desconhecidos, estávamos todos a conversar sobre o tudo e o nada. De repente, um deles pega no telemóvel e diz que não enviou nenhuma mensagem de ano novo a ninguém, que se calhar devia fazê-lo. Disse-lhe que enviasse à primeira pessoa de que se lembrasse naquele momento. Rapidamente disse-me que se lembrou da ex-namorada. Natural - respondi eu.

Após este episódio, fiquei a pensar. Fiz-me a mim mesma, a mesma pergunta. Tentei ver quem aparecia na minha mente. Debrucei-me sobre o assunto por mais segundos do que era suposto.
 Incrivelmente, um vazio.
Nem uma única pessoa brilhou nos meus pensamentos. Nem uma réstia de vontade de enviar mensagens seja a quem for. Nem família. Nem amigos. Nem ex-amantes. Nem nada.
Porém, não foi este pensamento que me surpreendeu. O que me surpreendeu foi a apatia com que pensava nisto tudo.
 Sei que em tempos este pensamento teria-me devastado. No entanto, naquele momento, não sentia absolutamente nada. Nem tristeza, nem solidão, nem decepção, nada.
Não soube, nem sei o que fazer com este nada. Embora, talvez seja a primeira vez na minha vida em que prefiro o nada à mágoa de uma felicidade que já não existe, de uma companhia que, provavelmente, nunca existiu, de uma compreensão e empatia que sempre andaram desaparecidas, de algo mais, que ao pensar sobre isso sempre foi tão efémero e fugidio. Como o tempo.

Talvez esta apatia venha do reconhecimento da minha própria culpa nisto. Temos o amor que damos. Se somos uma divisão de quatro paredes sem portas nem janelas estamos condenados ao vazio.
Agora, depois do reconhecimento a pergunta é simples: Queremos construir janelas e portas ou queremos pintar as paredes de outra cor?
A ponderar.

AR