sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Decisões

Ser adulto é uma merda e no entanto é tudo aquilo que sempre quis. 
Sempre quis ter a liberdade que tenho agora. E durante uns anos fui feliz (?) ou pelo menos mais feliz que agora. 
Esta cena de ser adulto à séria e ter que tomar decisões é uma merda.
Tenho ideia que não cresci, que fiquei ali na adolescência a contorcer-me com todos os cantos bicudos da vida, a contorcer-me com todas as tragédias da humanidade, a contorcer-me com todas as mudanças que um novo dia trás, a contorcer-me também com todas as rotinas, em suma a contorcer-me a cada respiração. 
Fazia sentido na adolescência, é disso que é feita a adolescência, todas essas dúvidas, todos esses medos, todas as lamurias, furores, gritos de revolta, lágrimas... Agora não, agora já não pode fazer sentido, agora devia ser um caminho para a calma, para a certeza, para a estabilidade, para o pranto, para a os pés à lareira, para... Nunca quis nada dessa treta. Nem quero exactamente isso agora. 
Tenho ideia que a sociedade obriga-nos a escolher um caminho ranhoso e não existe nenhum caminho à minha medida. Não quero nada do que a sociedade me propõe. Pego nos papéis, rasgo-os aos bocadinhos, espalho-os pelo ar, dou um berro e vou a correr dar um mergulho.Olho à minha volta e estou sozinha no mar. Outra vez.
Portanto o que faria sentido seria ter juízo, pegar nos papéis, assinar alguma coisa e ficar quietinha. Não sei fazer isso, não sei como. A palavra quieta durante mais de uns meses dá-me comichão.
Decisões... Até quando consigo eu fugir delas sem me lixar à séria? E não será que já me lixei mais que uma vez? Quantas vezes já boicotei a minha própria felicidade? E até quando o continuarei a fazer?
Deveria ser a única com essas respostas, deveria querer ser feliz. Mas começo a duvidar da minha alma, começo a duvidar de toda a inteligência que parecia possuir, começo a duvidar da minha estrutura, do meu espírito, começo a duvidar das ligações dos meus neurónios, começo a duvidar da vida.
E posso não saber muita coisa mas sei que duvidar da vida é o meu ponto mais baixo e mais cego de sempre.

AR

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