As sensações são, por vezes, incríveis. E há dias em que
acordamos cheios delas. Como hoje.
Vou à janela e até o cheiro a nada me faz lembrar mil e uma
coisas diferentes. Olho para as casas lá longe num monte perto do meu e elas
fazem-me lembrar todas as casas que eu nunca tive mas que sei que um dia terei.
O céu enche-me de qualquer coisa que não sei descrever e sinto-me o Fernando
Pessoa num dos seus dias de Bernardo Soares.
(excepto que se fosse mesmo ele saberia, certamente, descrever o que sentia)
No entanto, sei que não sou Bernardo Soares por uma simples razão: tenho
esperança...
Hoje todas estas sensações, apesar de mortas, imaginárias e
não concretas, são minhas e isso ninguém me pode tirar. É como a esperança que
está envolta nestas sensações, em cada uma delas.
E o dia passa e foi só mais um dia. Mas chega a noite e
todas as sensações voltam sem eu as chamar. Vou à janela e olho para a lua,
quase que me cai uma lágrima no olho: memórias,
porra, memórias. E vejo as luzes lá longe nos montes ao lado do meu, e
todas aquelas luzes brilham de uma maneira que eu nunca as vi brilhar e olho
novamente para a mesma casa e vejo as janelas dessa mesma casa e vejo as
pessoas que lá vivem a andar de um lado para o outro e de repente apetece-me
estar lá e dizer-lhes olá e de repente começo a imaginar coisas que já nem sei
bem quais são.
Começo apenas a imaginar, a mil a hora, imagem após imagem,
coisas que não fazem realmente sentido mas que fazem sentido ali, naquele momento.
Sinto-me bem mesmo assim. Turbilhão de sensações e emoções. Mas sinto-me bem.
Melhor isto que não sentir nada, que não ver nada, que não
querer nada, que não imaginar e não sonhar nada.
O nada costuma ser o
meu mundo. Portanto é sempre bom ir a Marte e voltar.
E voltei. E agora Arlabunakti que vou dormir.
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