domingo, 18 de janeiro de 2015

O teu olhar


Lembro-me de ti. Eras mais magro, não tinhas barba, o teu estilo era diferente... mas o teu olhar...o teu olhar é igual. Profundo e carinhoso.

Vejo-te do outro lado da rua e duvido que sejas mesmo tu, fico a olhar à espera de que algo na tua postura me diga que estou errada.
 Vês-me deste lado da rua, os nossos olhares cruzam-se e sorrimos ao mesmo tempo um para o outro. És mesmo tu.
O tempo passou para ambos e quase que não nos reconhecemos. Os sorrisos esses são os mesmos e levam-nos a um passado que de tão longínquo quase que já parece apenas um sonho.
Eu fico parada no passeio pois esqueci-me de como se anda, tu vens na minha direcção e, bolas, continuas giro.
- Não posso acreditar. - Disseste-me tu.
- Bem quase que não te reconheci. - Disse eu, querendo abraça-lo não sabendo bem porquê.
- Pois, também já não nos vemos há anos, desapareceste completamente do mapa. - Desapareci para que este tipo de coisas não voltassem a acontecer mas parece que não conseguimos fugir de certas coisas, pensei eu.
- É verdade, nunca mais vi ninguém daquele tempo. - Olhei para a estrada e comecei a pensar quantos anos exactamente é que tinham passado. 
- Oito anos, já passaram oito anos, é incrível como o tempo passa rápido. - Parecia que tinha lido os meus pensamentos.
- Sim passa a correr. Então e o que é que tens feito nestes últimos anos?- Questionei-lhe eu.
- Bem, mudei de emprego, de cidade, casei-me, posso dizer que está tudo completamente diferente.
- Casaste-te? - Tentei fazer um ar de contente mas saiu-me um esganar esquisito na pergunta.
- Sim, por acaso foi há pouco tempo, foi há 5 meses.
- Boa! - Agora pareceu entusiasmo a mais, ia achar que estava doida. - O que interessa é que és feliz.
- Sim estou muito feliz, estou numa boa altura da minha vida.
- Que bom, estou mesmo contente por ti. - E agora a frase foi sincera, olhei para ele e sabia que o meu olhar transbordava de um carinho que não sabia de onde vinha mas que era realmente genuíno.
Ele deve ter sentido esse carinho pois desviou o olhar e corou.
Quando se recompôs, perguntou-me como estava tudo comigo. Ainda estava meio abalada com a notícia do seu casamento portanto disse só que estava tudo bem sem adiantar grande coisa.
- Olha tenho pena que não possa ficar aqui mais tempo mas tenho de ir andando. - Disse eu já a fugir de toda esta situação.
- Sim eu também tenho de ir. Sabes gostei de te ver podíamos combinar um jantar para falarmos melhor o que é que tu achas? - Fiquei meio parva com esta pergunta e não sabia o que havia de responder.
- Ahh, ok acho que pode ser. 
- Amanhã?
- Amanhã?!
- Não?
- Ahh, bem acho que sim, a que horas?
- Lá para as oito? Encontramo-nos no centro e depois vemos a onde vamos jantar.
- Ok, então fica combinado, até amanhã. - Ele sorriu, chegou perto de mim e abraçou-me. 
O mundo pareceu dar uma volta de 180 graus e esqueci-me de tudo, esqueci-me que estava atrasada para uma reunião, esqueci-me que amanhã tinha já combinado um jantar com uma amiga e nem dei por ela mas começou a chover.
 Olhei para o céu e a única coisa que me vinha à cabeça era o quanto tinha tido saudades daquele abraço.


Sem comentários:

Enviar um comentário