segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Vícios

 Estou viciada em café, álcool, Netflix e no movimento. Todos estes vícios têm o seu grau de gravidade. Porém, em vez de pensar na gravidade dos mesmos, só consigo ver as coisas positivas. O café faz com que fique elétrica, com vontade de fazer mil coisas simultaneamente e com milhares de ideias que parecem lindas e maravilhosas. O álcool deixa-me feliz, a vida parece mais colorida, todas as pessoas parecem incríveis e dançar passa a ser a coisa mais importante e bonita nesta vida. A Netflix faz com que mergulhe noutros mundos e esqueça do vazio que a minha vida tem. Apaixono-me por personagens como se fossem pessoas reais, como se o real e a ficção se pudessem fundir num só, e de repente tanto posso ter nascido em África, nos Estados Unidos ou na Índia, de repente posso ser lésbica, ou bi, ou trans, de repente sou criança, velha e um átomo, de repente transformo-me no que quiser. O Movimento, esse maldito, que me ilude desde que sai da Universidade. Ilude-me, apaixona-me, surpreende-me, ensina-me, destrói-me e tudo in between. O Movimento tem, na verdade, mil vidas e todas elas são tão importantes. Como escolher? Como saber o que é melhor para nós? 

Abraço todos estes vícios de uma forma intensa, dou-lhes a mão e finjo que não é grave, que viver assim é positivo, bonito e especial. Aceito que não sou perfeita e tento perceber o que consigo largar. Se há algo que possa fazer para ser melhor e estar melhor. Dou voltas à minha cabeça como a estupenda psicóloga que sou de mim própria. Quero, na verdade, dar-me uma estalada. Quero ser como uma irmã mais velha, gritar comigo própria e dizer que não posso continuar assim, que nada disto é saudável. Que a minha vida está cheia de escapes para não ter que lidar com alguma coisa que ainda não sei bem o que é. Sei que estou a fazer tudo mal, sei que continuo a fazer tudo mal e mesmo assim volto a tomar decisões duvidosas que me levam a outros caminhos que não era o que queria para mim...  mas o que quero, realmente, para mim? 

O café faz-me acreditar que a vida pode ser melhor que isto, o gosto do café é um escape, a energia que o café me dá e a maneira inacreditável como coloca os meus neurónios a funcionar a mil à hora é realmente um fenómeno brilhante.

O álcool é já um amigo, um amigo que tenho de ver, pelo menos, uma vez por semana para ter a certeza que ainda estou viva.

A Netflix tornou-se uma rotina como comer e dormir.

O movimento é parte de mim. Sem ele, como estou, neste momento, não sei quem sou e o que faço aqui. Não tenho propósito, nem objectivos, nem missões, nem desafios, nada. O que sou sem o movimento?

Com medo do que pode acontecer com a falta de movimento, volto a tomar decisões que me surpreendem e enlouquecem. Parte de mim leva as mãos à cara, a outra parte de mim sorri, salta, dá uma gargalhada e corre para o horizonte.

F*

AR



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