sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O Valor da Vida

Apeteceu-me fugir.  Fugir é uma das coisas que faço melhor.
Comecei a pensar para onde é que ia e decidi-me por uma parte da costa que ainda não conhecia. Peguei na minha scooter cor-de-rosa e sem saber o caminho exacto meti-me à estrada.
 Sorria enquanto conduzia,  fugir para o desconhecido sempre me deu prazer.
Voltar é me tantas vezes doloroso.
 Comecei por entrar em todas as vilas costeiras que ainda não conhecia.  Porém,  era mais do mesmo.
Depois de passar por algumas vilas comuns, descobri as praias mais escondidas onde à volta só se via montanhas, árvores,  rios, espaços naturais com pouca acção humana. Tendo apenas ruínas,  muitas ruínas.
Portugal é um país perdido no tempo com pessoas perdidas na vida. Nunca sabemos bem quem somos ou o que queremos. Temos dificuldade em afirmarmo-nos como Povo, preferimos misturarmo-nos com outras pátrias e tornarmo-nos invisíveis.  Podendo isso ser um aspecto negativo nosso, também tem o seu lado positivo. Eu adoro ruínas.

Após muita diversão a subir e descer os montes com a minha bela scooter, parei numa praia que se encontrava no meio de dois montes. Para que se tornasse mais acessível tinham construído uma estrada e um parque de estacionamento. De resto era uma praia no meio de pura natureza.
A primeira coisa que reparo é nas duas casas semi-destruídas que deixaram à entrada da praia, sorrio e fico feliz ao pensar que no passado viviam ali pessoas, que abriam a porta e estavam a 3 metros da praia. Pensei que as pessoas deviam ter sido felizes.
 Olho à volta, sorrio mais uma vez por haver pouca gente na praia e estendo a toalha.
Deixei passar umas horas e decidi voltar à estrada. Ter uma scooter no verão é melhor do que ter um carro.
Entre subidas e descidas e mais vilazinhas costeiras encontrei uma Vila mais natural, com menos casas. Segui a placa que indicava: Praia da Figueira. Uma estrada minorca no meio de uma paisagem cheia de contrastes era o caminho para esta praia. Mais ruínas e uma casa antiga que parecia ter vindo de outro país era o que se encontrava na entrada desta estrada.
 No final da dita cuja cheguei a um local onde estavam alguns carros estacionados e havia um sinal a indicar que a partir dali só podiam passar peões e bicicletas.  Olhei para a minha adorada scooter e pensei: Isto é quase uma bicicleta. E lá fui.
Até ao ponto em que o caminho tornava-se demasiado estreito e cheio de pedras para o meu veículo poder passar. Estacionei e comecei a andar.
A paisagem à minha volta era maravilhosa; montanhas e verde e verde e montanhas... Quando vislumbrei o areal sorri instantaneamente. Tinha um lagozinho no início da praia; um paraíso escondido.
Olhei para o mar e havia ondas! Que saudades que eu tinha das ondas. Esta praia, ao contrário da outra, não tinha tantas pedras no mar o que me deixou contente.
Não conseguia estar parada portanto comecei a andar. Vi que havia outra praia depois de algumas rochas e quis ir ver como era.
À primeira vista era na verdade só mais uma praia, dei mais um mergulho, vi umas pessoas nuas, olhei para o fim daquela praia e pareceu-me que havia outra depois de mais algumas rochas, lá fui eu. Entrei no mar e como a maré estava relativamente baixa e o mar ficava-me só um pouco acima da cintura continuei a andar.
 Após uns bons minutos apercebi-me que a praia seguinte não estava propriamente perto. Olhei para trás e pensei: Bem agora já estou aqui. E continuei.
 Quando cheguei à última praia não se via nem uma única pessoa. Por momentos tive uma sensação de solidão a percorrer o meu espírito mas quando me virei para o mar imenso qualquer sensação negativa que tinha desapareceu.
Cheguei ao fim daquela praia e vi um pedaço de areia intacto, senti-me logo inspirada: "Tenho em mim todos os sonhos do mundo" O Fernando Pessoa havia de gostar. Alguém há-de gostar.
Voltei para trás.  Olhei para o mar outra vez e fiquei parva como ainda não tinha reparado que estavam a saltar peixes por todo o lado. As ondas que tinham a água cristalina eram as mais lindas de sempre em que se via os peixes nelas como um oceanário que tem tudo de oceano e nada de aquário.  A partir daí não consegui parar de sorrir.
 É lindo ver os peixes e as pessoas a coabitarem no mesmo espaço em harmonia.
Ainda meio parva com este fenómeno que é natural mas já tão raro de ver voltei para a minha toalha, sentei-me olhei em volta e lembrei-me: "Tenho em mim todos os sonhos do mundo." :)