sábado, 16 de novembro de 2019

Momentos e ligações

 O problema é quando os momentos são meramente momentos. Quando não se tornam mais que momentos, quando fazem parte de uma pequena parte da vida que não ficou no presente, que não almeja o futuro. 
Ligações, o que são elas? Como saber se uma ligação é real? Por quanto tempo ela vai existir? Quem vai quebrá-la primeiro? Como descrever os sentimentos? Quando existe ligação é amor ou pode ser só um carinho forte (Ou talvez um carinho fraco)? O que é amar? Quando se ama sozinho é mesmo amor ou é um amigo podre? E quando é mútuo, ser-o-à por quanto tempo? Cinco minutos? Duas horas? Quatro dias? Um mês? Um ano? Para sempre? Quando falamos de amor falamos de amor para sempre? Ah ah do you really believe in that? Não quero ser eu a dizer-te o contrário. Não destruo sonhos. Gosto mais de pessoas que acreditam e que têm esperança do que daquelas como eu que já nasceram a morrer. 
Não é que tenha medo. Só não sei lidar com a felicidade. Não sei lidar com o amor. Talvez por serem conceitos abstractos, talvez porque não podemos pegar neles e dizer: "Está aqui." 
Por vezes volto ao passado e penso se algo me escapou. Esqueço-me que, talvez, a resposta esteja no futuro. Ou talvez no, agora, no presente. Estou demasiado ocupada com outra coisa. Sempre demasiado ocupada com outra coisa. Porque a felicidade não pode estar aqui ao meu lado, porque isso era muito fácil. Nada nunca está aqui agora, nada nunca está aqui para sempre. Et voilà. Consegui utilizar todas as palavras que desgosto numa mesma frase. E todas as que desgosto seriamente num mesmo texto. Poderia dizer que é arte. Porém, sei lá o que é a arte. Já ficaria feliz se soubesse viver melhor. 
Viver melhor. Parece uma daquelas marcas de vitaminas para emagrecer. 
Onde quero chegar com isto? A lado nenhum. E talvez a todo o lado. Se nestes meses encontrei-me? Não. Se houve alguma luz no caminho? Talvez muitas. Se elas me fazem agora ver melhor? Nem por isso. Porém, talvez um dia faça sentido. Talvez um dia pegue em todos estes momentos, todas estas ligações e consiga sorrir. Talvez escreva um livro sobre todas as pessoas que conheci... Não vai acontecer. Já me esqueci. Já não sei se acredito nisto dos momentos e ligações. Quero acreditar. Conheço a realidade. Os momentos foram reais. Talvez seja o facto de serem demasiadas pessoas. Talvez o humano não possa processar assim tanta informação. Talvez tenha feito da minha vida um poço de pessoas. Parecia boa ideia. De repente parece-me que dificultei tudo. Que no meio do tudo acabo por não encontrar nada. Talvez as decisões que tenha tomado tenham-me levado a um caminho rico mas longo, cheio mas confuso, entusiasmante mas efémero.
E agora? Agora que aqui estou, agora que se tornou um vício... Agora... como dizer adeus ao efémero? Quando, por si só, a palavra já é uma despedida.

AR

sábado, 27 de julho de 2019

More of the same

Well, well...
I was better with words before. Words were so much more before.  Today I am lost in languages. I jump into English, Español, Português, Italiano...they all have a different intensity. I jump trough languages as I jump trough life. I dont have a destination but I try my best to enjoy the ride. Sometimes I am happy, the litlle things make me happy. Overall my life is a dream. But they are days that I look around and I cannot see the beauty that exists, I dont feel nothing. And this nothingness that follows me since I remember its hard to explain, its hard to put into words. Because when you put it into words you make it more real. And who wants a void as a reality?

AR

quarta-feira, 1 de maio de 2019

O amor não é isto

Pensei que não precisava de escrever sobre isto. Queria que não fosse importante. Mas é. Demorei um ano a perceber que é importante.
Queria dizer-te adeus, queria dizer-te que tinha visto em nós mais do que aquilo que nós alguma vez fomos. Queria dizer-te que a nossa amizade fazia sentido e que me dói como ao caraças que agora não faça. Queria te dizer que tenho pena que os nossos caminhos sejam hoje tão diferentes. Queria dizer-te que não lamento estar diferente. Não lamento ter escolhido tudo o que escolhi. Não lamento a pessoa que me tornei. Queria dizer-te que penso muito em ti e que não é fácil aceitar que já não temos nada em comum. Mesmo sendo a verdade.
Gostava de dizer-te muita coisa mas tenho ideia que não ias entender nem metade. Que ias culpar-me de tudo e fingir que não é nada contigo.
E talvez não seja.
Talvez sofra sozinha. Como sempre aconteceu.
O problema é só meu.
É difícil aceitar a solidão... E ao mesmo tempo é um vício.

AR

sexta-feira, 26 de abril de 2019

A insustentável leveza do ser

"Logo no início do Génesis está escrito que Deus criou o homem para que ele reinasse sobre os pássaros, os peixes e o gado. É claro que o Génesis é obra de um homem e não de um cavalo. Não é certo que Deus tenha verdadeiramente querido que o homem reinasse sobre as outras criaturas. É mais provável que o homem tenha inventado Deus para santificar o poder que usurpou à vaca e ao cavalo. Sim, o direito de matar um veado ou uma vaca é a única coisa acerca da qual a humanidade inteira está fraternalmente de acordo, mesmo durante as guerras mais sangrentas.
 Esse direito parece-nos natural porque somos nós quem está no topo da hierarquia. Mas bastaria que um terceiro se imiscuísse no jogo, por exemplo, um visitante vindo de outro planeta cujo Deus tivesse dito «Tu reinarás sobre as criaturas de todas as outras estrelas» e toda a evidência do Génesis seria imediatamente posta em questão. O homem atrelado a um tanque por um marciano, eventualmente grelhado no espeto por um habitante da Via Láctea, talvez se lembrasse então das costeletas de vitela que costumava cortar no prato e apresentasse (demasiado tarde) as suas desculpas à vaca."

Milan Kundera

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

O Movimento

25.05.2018

Dizem que demora 365/6 dias para que a Terra dê uma volta ao Sol. Ao mesmo tempo que vai girando em torno do seu próprio eixo. Um eixo que ninguém vê, ninguém viu e provavelmente nunca ninguém verá. Existem muitos movimentos dentro do movimento. Isso poderá ser um enigma ou um simples facto. Sempre que tento escrever coisas simples a profundidade salta para o meu colo. Não consigo não a embalar ao ritmo de uma melodia. Escolho sempre melodias suaves porque já existe falta de suavidade suficiente na vida. A vida é um bicho curioso, aliás vários bichos curiosos. Busco incessantemente conhecer todos esses bichinhos. Em vão. Não cabe dentro de nós todo o conhecimento. Entre tudo o que poderíamos saber o que realmente me interessa é: Saber apreciar o silêncio, conseguir sentir amor sempre que toco numa árvore, saber escutar o vento, entender a sabedoria da água e do fogo. O tempo não existe para a água e para o fogo. Que bom. Talvez seja devido à noção do tempo que nos perdemos no movimento da vida. Temos pressa porque sabemos que há um fim. Temos medo do fim. A ausência da nossa existência é um buraco negro do qual todos fugimos a sete pés. Fugas. Não queria escrever nada disto, a minha mão tem vontade própria. Assim como ninguém perguntou à Terra se queria continuar a girar à volta do Sol. A lei da atracção. Somos mais do que isso? 

AR

domingo, 13 de janeiro de 2019

Lágrimas

Há muita coisa que ainda não entendi na humanidade. Muitas perguntas sem resposta. Uma delas é porque é que a maior parte de nós não lida bem com o choro? Chorar à frente de outras pessoas parece o fim do mundo, colocam-nos uma etiqueta na testa com adjectivos como: frágil, fraco/a, criança, dependente, entre outros. Todos eles para diminuir as pessoas, todos eles dizendo que chorar não é aceitável dentro do mundo dos adultos.
Tudo isto é ridículo.
Saber que não estou confortável em chorar nem à frente de amigos que conheço há anos deixa-me com vontade de chorar.
Por vezes sinto que mais do que alguém para falar ou alguém para rir precisava de alguém com quem pudesse chorar. Que não fosse estranho ou desconfortável. Que fosse normal como respirar, como dizer uma piada.
Todos nós precisamos de chorar por um pormenor ou por algo mais complexo. Mas quem são as pessoas que sabem oferecer um ombro sem julgar, sem exagerar negativamente no significado do acto?
Não deveria ser tão difícil e no entanto se alguém chora à minha frente congelo, não sei o que fazer nem dizer. A sociedade não nos ensina nem a lidar com os nossos sentimentos e emoções nem a lidar com a dos outros. Parece me que andamos todos cegos, surdos e mudos. Há dias em que a humanidade foge de mim e outros em que me sinto cheio dela, em qualquer dos casos sinto o caos à minha volta. Tantos humanos que já se esqueceram de ser...e talvez eu também já o tenha esquecido.
Hoje está a ser um dia de lágrimas. Mas poucas porque aqui não é confortável chorar. Nem tenho um ombro que me diga: "Estou aqui para ti, vou chorar contigo, vamos chorar até tudo nos doer, até termos libertado todas as lágrimas, até o nosso nariz parecer uma batata, até nos apetecer rir novamente, até..."

AR