sábado, 31 de dezembro de 2022

Não é só um vestido bonito

 Sinto tudo como uma farsa. Pinto as unhas para parecer mais sofisticada ou talvez só para fingir que sou igual às outras. Coloco os sapatos altos, os pés doem-me, penso porque é que o fazemos? Porque é que o faço? Visto- me e faço um penteado, sinto que não sei bem o que estou a fazer, que todos os passos e todos os detalhes são falsos, que esta não sou eu. Porém, não me sinto mal por isso. Estou bem, aparento estar bem. A farsa funciona, funciona sempre. O parecer bem é meio caminho para se estar bem. Eu sei-o.

Não estou propriamente entusiasmada, talvez devesse estar. No entanto, há tanto ruído... o maravilhoso livro triste que li hoje, telefonemas com palavras proferidas que magoam, o vazio do costume. Vou porque sei que me vai fazer bem, que me vai fazer esquecer de tudo e vou entrar num mundo em que tudo é belo, colorido e animado. Pelo menos por umas horas. E por vezes a alegria dessas horas é uma botija de oxigénio que nos permite respirar durante uma semana. 

Os anos passam e a nuvem negra continua demasiado perto de mim, sem nunca realmente se afastar, mesmo em dias de céu azul. Procuro sempre uma distracção que me faça acreditar que a vida não é só isto. Como tenho a certeza que não é. Vi-o nos olhos de um cão, vi-o no sorriso de uma criança, senti-o no vento que passou por mim, senti-o na pele depois de um toque, vi-o num pôr de sol, lembrei-me. Não é só mais um ano, é também mais uma oportunidade, mais tempo, mais esperança, mais... 

Vou ali então vestir a farsa.

AR 

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Entre a Paz e o Amor

 A perfeição não existe. Ninguém é perfeito. Ok, aceita-se. Mais ao menos.

Não é preciso ser perfeito, embora tenha que existir uma certa magia para que faça sentido. Temos sempre uma primeira impressão, depois uma segunda, a seguir começamos  a pensar se a pessoa podia ser mais. O após é sempre o mesmo, é encontrar os defeitos, é a irritação que vem depois de verificar que a pessoa tem sempre os mesmos tiques, as mesmas piadas, a mesma maneira de reagir a certas situações. Gostava de ser leve, de aceitar todos, de só ver as coisas boas, de aceitar qualquer um e ser feliz. Era bom que fosse mais fácil. Não consigo que seja fácil, não consigo deixar de ser complexa e exigente, não consigo deixar de irritar-me com todas as pequenas coisas. Ninguém é perfeito. Penso muitas vezes que quando encontrar alguém com quem sinta a tal magia que não me vou importar com tudo o que não gosto, quero acreditar que simplesmente não tenho gostado assim tanto de alguém para conseguir esquecer os defeitos, tiques e manhas. Quero acreditar.

Lembro-me de um momento muito específico este ano. Estávamos muito perto um do outro, eu olhei para ti e reparei, pela primeira vez, que os teus olhos tinham várias cores: cinzento, azul, verde... Na verdade, parecia uma explosão de cores. Lembro que me perdi por todas as cores dos teus olhos durante um minuto. Pensei, na altura, que se tivesse apaixonada que aquele seria um momento bonito. E depois, pensei que estava a ser um momento bonito na mesma. Sorri, dei-te um beijo. E naquela noite não pensei mais sobre significados, borboletas, futuros e sentimentos. 

Tenho tido uma boa vida sem isso tudo, aliás tenho sido privilegiada. 

Rio-me com o quão irónica a vida é. Sei-o, da mesma forma que sei o meu nome que um dia quando me voltar a apaixonar e não der certo, e entrar num sofrimento que vai parecer infinito, vou-me lembrar de todos os momentos em que quis experienciar isso outra vez, em que quis sentir a magia. E vou pensar, como já antes aconteceu, que prefiro a paz. 

Se tiver que escolher entre a paz e o amor, sei-o, escolherei sempre a paz.

AR

sábado, 4 de junho de 2022

No regrets

Quero arranjar tempo para tudo, quero estar em todo o lado, estar com todas as pessoas, fazer tudo. Não quero escolher, não quero apenas este ou aquele caminho, nem esta ou aquela pessoa. Quero puder abraçar todos, viver tudo, sentir tudo.

Nos últimos dias apaixonei-me por muitas pessoas. O meu entusiasmo por pessoas tem parecido crescer. Como se a magia da vida agora tivesse na coleção de personalidades que consigo conhecer. A cada nova e interessante conversa a minha alma sente-se mais acompanhada, mais saciada. Apesar de nunca saciar completamente.

Tem sido interessante analisar esta fase da minha vida. Têm havido altos e baixos. No entanto, tenho sentido nos últimos meses uma certa clareza em relação à vida que penso nunca ter experienciado antes. Tenho tido muitos momentos iluminados. Não sei bem de onde vem esta energia, esta força, este entusiasmo, também não sei bem se consigo manter este ritmo, ou se é saudável fazê-lo, mas tem sido tudo tão importante e especial.  Mesmo que tenham sido momentos, maioritariamente, com estranhos. Tem sido um investir no desconhecido. Leap of faith. Nem é isso, é, na verdade, o acreditar que não é por ser efémero que deixa de ser menos importante. Demorei anos a chegar aqui. Foi difícil chegar a este patamar, em que estou a 100% no momento, sabendo que poderá nunca passar de um só momento, que poderá nunca se repetir, mesmo assim invisto, estou presente, aceito, sorrio, dou.

 A vida tem sido tanto. E por mais cansativo que seja ser tudo e estar em todo o lado, não me arrependo de um único segundo.

AR

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Abraçando Lisboa

 22.02.2022

Que data interessante.

Cada vez mais acredito em momentos perfeitos.

Não sei se é pelo céu azul e por este sol incrível, ou pelo que é, mas hoje é um bom dia! Vim até um jardim, escolhi uma esplanada aleatória. Cappuccino. Olho em frente e um grupo de crianças brinca. Sorrio. Vê-las brincar é belo.

Do meu lado esquerdo está um grupo de adolescentes a fazer rap, podia sentir que perturbam a minha paz, no entanto, sorrio. O rap não é mau, proferem palavras que fazem sentido, têm jeito para aquilo, têm melodia, é arte, o que fazem é arte.

Do meu lado direito, duas americanas falam sobre a vida. Não sei se vivem aqui ou se não, embora seja agradável ver que se perdem em conversas como se tivessem todo o tempo do mundo. É tão bom ter todo o tempo do mundo.

O sol aquece-me a alma. Está um dia esplêndido. Não se vê uma única nuvem no céu, este azul profundo emana paz.

Recebo uma chamada, a conversa faz-me sorrir também. Em breve falarei a jovens sobre globalização, direitos das mulheres, viagens e literatura. Oh! Haverá algo mais enriquecedor do que isto?

Olho em volta, ouço idiomas variados, vejo várias pessoas vestidas de maneira diferente, indicando que nasceram em distintos cantos do mundo. Penso, que apesar de sentir muita falta de viajar, estar aqui tem sido uma tábua de salvação.

Fazemos o que podemos com o que temos e aproveitar o que existe à nossa volta para ser feliz é realmente importante.

Lisboa parece o berço do mundo. Um abraço à humanidade. É mais do que belo ver partes do mundo aqui. Recebo o mundo com um abraço forte, obrigada por terem vindo, fiquem mais um bocadinho...

AR

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Brasil 💗

 Estava a pensar como é que é possível que há 4 anos não tenha escrito, praticamente, nada sobre o Brasil tendo sido uma viagem tão importante.

Deixo aqui um texto escrito naquela altura com algumas coisas que acrescentei hoje. Pois, voltei a ler os rascunhos que escrevi quando visitei o Brasil e tive tantas saudades que chorei. Chorei como se fosse o meu país, como se já não fosse a casa há 4 anos. 

Sobre o Brasil:

Vim à procura de um abraço, encontrei mais do que isso. Encontrei nesta vossa linguagem cheia de gerúndios a sensação de estar em casa.

A Beleza está na ponta da língua, para dizer que concordo.

Tenho vontade de gravar a vossa voz a dizer: Uai para me lembrar que a primeira vez que a ouvi, respondi como se fosse Porquê.

Estou cansada dos vossos ônibus, espero ver mais trens da próxima vez, mas não boto muita esperança nisso. Embora saiba que vai haver próxima vez.

Ainda não sai desta terra maravilhosa, porém, já tenho saudades.

Saudades dos cariocas, dos paulistas, dos mineiros...

Saudades do cupuaço, do bacuri, da castanha-do-pará...

Saudades da goiabada, das borboletas coloridas, do pássaro bem-te-vi, dos tucanos, dos loros, até dos Urubu, até desses.

Saudades do vosso frio que é quente, dos abraços sentidos, das tapiocas, do açaí...

Vou sentir falta do vosso cumprimento: um abraço e um beijo. Não há cá beijinhos.

Gosto de vocês mesmo quando fazem o troco arredondando, mesmo quando falam alto para deixar mensagem de áudio no whatsapp, mesmo sabendo que há demasiado plástico descartável nestas terras, mesmo com a vossa obsessão pela estética, mesmo que gostem de sertanejo com aquelas letras machistas que não dizem nada de jeito, mesmo que coloquem demasiado açúcar e sal na vossa comida, mesmo que comam muita carne, mesmo assim, gosto de vocês.

A casa-de-banho passou a ser banheiro.

O pequeno-almoço passou a ser café da manhã.

Os atacadores passaram a ser cadarço, singular, pois, exato.

Tu passou a ser você, e bem posso tentar tratar a galera por tu, que muitas vezes não me entendem. 

Então, você, contrariando a minha mente que me diz que você é formal. Aqui não há bem formal e informal, no final de contas, somos todos uma grande família. Não existem muros, barreiras, os tais muros e barreiras que em Portugal tanto gostamos de criar.

Talvez tenha sido essa uma das razões para me sentir em casa. Senti que aqui somos todos iguais. Só muda os pormenores, na alma somos um só.

Se pudesse, levava um bocadinho do Brasil no bolso para todo o lado. Embora, sinta que por ter estado aqui mais de dois meses, é claro que o Brasil está agora tatuado em mim, e que vai moldar a minha pessoa no futuro. Vou levar, sim, o Brasil comigo, somos tão melhores quando conseguimos ser de onde nascemos e também de todos os outros lados.

AR


segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Pedaços de vários universos

 Como sempre, vejo o céu com dezenas de estrelas como vejo a vida cheia de possibilidades. Quero muito viver tudo. Todas estas possibilidades deixam-me à deriva e tanto escolho algo ao acaso para experimentar como congelo e nada escolho. Tanto quero escrever outro livro, como quero aprender outro idioma, como quero fazer voluntariado e ajudar outras pessoas, como quero um novo trabalho, como quero voltar ao trabalho que já conheço. Quero conhecer pessoas novas todas as semanas, dançar até cair, ficar aqui e explorar todas as ruas, levantar-me e ir viajar, apreciar isto, agora, o momento presente e a escolha que me levou até aqui e depois rejeitar tudo e duvidar de tudo. Lidar comigo é impossível. 

Não quero seguir apenas um caminho, quero seguir todos e perder-me em todos eles, falhar, rir-me, estar presente, ser feliz em todos eles. É cansativo ser tudo e estar em todo o lado, mas é a única maneira de tapar este buraco, de satisfazer esta alma insaciável, a única forma que encontrei de ser feliz. Ao mesmo tempo, que é também o que me destabiliza, o que me enlouquece, o que me deixa em mil bocados, o que me dilacera, o que não me deixa ser feliz. Isso. É esta a loucura em que vivo. Todos os dias enlouqueço um pouco mais, a cada dia que passa menos sei quem sou e o que estou aqui a fazer, no entanto, a loucura é também casa, um espaço familiar, a loucura é também um caminho. Caminho esse que percorro com cuidado como uma louca medicada. O segredo é conhecer-mo-nos o suficiente para saber que vendo o abismo jamais sucumbiremos ao mesmo, é saber que, apesar de tudo, a loucura tem-me permitido tanto, é acreditar que a loucura também tem algo a ensinar.

Sinto-me uma estudante todos os dias. A vida tem sido uma experimentação. Nada é garantido. Quando estivemos em todo o lado, vimos tudo, e tocámos em tudo, somos então pedaços de vários universos, somos, quase, omnipresentes, sentimos que entendemos melhor o que é ser humano, entendemos melhor a árvore do parque, apreciamos mais o vento que sopra, conhecemos um pouco melhor o mistério da vida, o tudo ou nada desta viagem que é estar-se vivo. Estar vivo é tanto que só a loucura nos deixa ver um pedacinho dessa imensidão.

AR

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Entre cumes

Nem tudo precisa de ser um exponencial de sentimentos e certezas.

Sinto que tenho problemas em aceitar a escala de cinzentos que existe na vida. Desde que me lembro que acredito apenas em paixões avassaladoras ou tristezas profundas. Tenho dificuldade em aceitar tudo o que existe no meio. Esqueço-me que a vida é tantas vezes detalhes com pouca intensidade. Não podemos viver constantemente em alvoroço, extremamente felizes ou a morrer por dentro num buraco negro. 

Tento fazer chegar a mensagem a mim própria, como uma entidade que não consigo alcançar. Gostava de aceitar o espaço na vida que existe entre cumes, esse espaço tem tanto para ensinar. 

Penso nisto e lembro-me de ti. Há algo em nós que é especial. Recuso-me em falar de amor, paixão, um cume. Falo em espelhos, em coincidências, em silêncios que, finalmente, fazem sentido. 

Há bem pouco tempo, a tristeza devorou-me por não sentir mais, embora, sinta, hoje, agora, suficiente ter encontrado alguém que é, em tantas facetas, um espelho meu.

Por um lado, tento esconder-te, quase como estranhar que parte de mim possa estar dentro de outro corpo. Interessante, que o que goste mais em ti, é o desapego que ambos conhecemos tão bem. Um aceitar outro tipo de ligação que não, a que a sociedade pensa que temos de ter. Não fazemos perguntas, sinto, que não precisamos das respostas, ou elas acabam por aparecer noutro formato. No outro dia, olhei para os teus olhos e vi uma profundidade de cores que me fez sorrir, pensando na beleza dos encontros. Sempre que sei de mais um pormenor em que somos parecidos, não fico mais surpreendida, mas, seria mentira se dissesse que a minha alma não se sente confortada.

Sendo tu como eu, é difícil chegar até à tua essência. Reconheço bem essa característica e pela primeira vez, em muito tempo, não tenho perguntas, não quero saber já tudo, não preciso de falar insistentemente. Pela primeira vez, em muito tempo, não só aceito o silêncio como aprendo com ele. Há coisas na vida que não precisam de ser ditas.

A vida é o que fazemos dela, abraçando todas as fissuras, as cicatrizes abertas, as dúvidas existenciais, as incertezas de significados e o mistério do futuro. Não há outra forma de viver se não abraçando tudo isto. 

Não te conhecendo bem, sinto que no nosso abraço existe um mistério que é muito nosso. Não temos  uma realidade conjunta, mas temos, sim, duas realidades tão ricas e complexas que a fusão talvez nos levasse a uma explosão de vivências, acontecimentos e momentos. Não temos a certeza se queremos explodir seja com o que for, embora saibamos o quão bela a vida tem sido. Temos a certeza de uma única coisa, faremos os possíveis e impossíveis para que ela continue a ser uma aventura, seja ela uma aventura compartilhada ou a solo.

AR

domingo, 9 de janeiro de 2022

Perdoa-me.

Tenho problemas.

Reparo no quão sem sentido sou.

Acredito que devemos investir mais nas pessoas, investir mais uns nos outros, mas sou a primeira a desistir. Desisto, e depois quero que não desistam de mim, assim como um jogo de gato e rato. Não invisto, não aprofundo, embora fique à espera que o outro lado tenha a resposta contrária. Se insistirem do outro lado, acho a pessoa irritante, se não insistem fico deprimida. Um jogo sem sentido nenhum, em que não interessa o desfecho, pois esse é sempre negativo a meus olhos. 

Há muitos anos que deixei de acreditar, no entanto, tenho uma ideia no fundo da minha mente que a pessoa certa vai mudar as minhas atitudes. Embora, é possível que deixe fugir todas as pessoas certas. Deixo-as ir porque tenho medo. Receio que não funcione, receio que funcione. Todos os desfechos são maus. Se não funcionar perdeu-se tempo de vida e energia, perdeu-se esperança, se funcionar fico presa a uma pessoa, a minha felicidade passa a ser responsabilidade de outrem. 

Agora mais que nunca sei que a culpa tem sido minha. Não tenho estado disponível, há muitos anos que não o estou. 

Saber isto, podia fazer-me mudar de comportamento e dar-te uma oportunidade. A ti, que claro como todos os outros não fazes sentido nenhum, a ti, que provavelmente nem vais estar presente na minha vida daqui a uns meses, a ti que falas uma língua que não é a minha, falando uma língua que é tão minha que não tem interesse, a ti que me lembraste o que é ser desejada outra vez... O maior problema de todos: não gosto assim tanto de ti. Gostava de gostar um bocadinho mais, gostava de não desistir já, gostava, ao menos, de dar-me a conhecer. Niente. Sinto-me distante, fechada em quatro paredes. Olho para ti, sorrio e penso que não consigo dar mais, por mais que, teoricamente, gostasse, não me sai das entranhas, a minha alma nada tem a dizer. Sem ser: perdoa-me. 

Uma mensagem que não sei bem se é para ti ou para mim mesma.

AR

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

2022

 Há algo no número 2022 que é meio estranho. Demasiados dois, não sei.

Chegamos a este ano meio baralhados das ideias, o mundo nos últimos anos tem sido caótico, não sabemos bem se devemos estar entusiasmados com este novo ano. Damos um passo atrás, escondemos o sorriso e duvidamos de tudo. Viver não é tão leve como era no início de 2020. Viver tem sido um desafio constante, uma batalha imprevisível, um jogo sem regras.

No entanto, apesar de querer falar pelo colectivo, a minha experiência tem sido, provavelmente, muito melhor que a da maior parte das pessoas. Quase que sinto que estes últimos anos me enriqueceram.

Olho para o futuro e nunca deixei de acreditar. Mesmo quando estava tudo parado e escuro, nunca deixei de crer em dias melhores. Há algo em mim, cá dentro que nunca parou de brilhar. Sei que não é só sorte, sei que quando não desistimos, não baixamos os braços, a vida mostra-nos que é possível esmagar os obstáculos, vencer a escuridão, dar uma estalada na morte.

É surpreendente que nunca tenha sido espiritual, enquanto acredito tanto no nosso espírito. É como se essa caixa não fosse para mim, conheço o seu interior, mas não quero entrar nela e permanecer.

Nunca quis permanecer em nenhuma caixa.

Agora, neste momento, não tenho conclusões sábias, nem decisões epopeicas, nem lógicas iluminadas, o que tenho é motivação, teimosia, optimismo e um "je ne sei quois" que me tem salvo do caos. 

Aprendi no ano que passou que não preciso de estabilidade, nem preciso das mesmas pessoas sempre por perto, o que necessito é de pôr-de-sóis e de pessoas aleatórias que nos ensinam a gostar de nós próprios e que fazem questão de colocar na vida um pózinho mágico de uma energia que é o que faz os nossos corações bater. Apaixono-me por momentos tantas vezes... quantas me são permitidas pela vida, apaixono-me por estranhos, pelos seus sorrisos, pelas suas palavras, pela sua alma. Apaixono-me pela natureza e derramo lágrimas com os feixes de luz a reflectir seja no que for. A vida é muito mais do que aquilo que nos fazem crer.

Viver, mesmo nos dias de hoje, ainda é um milagre, ainda é uma viagem que vale a pena ser experienciada.

AR