sexta-feira, 24 de julho de 2020

Friends

Depois de mais de 10 anos a ver a série Friends acabei hoje de ver o último episódio, o qual nunca tinha visto.
Há anos que vou vendo episódio a episódio devagarinho. Não queria que acabasse. Esta série representa parte da minha adolescência, representa o meu tempo na Universidade, as amizades que fiz ao longo dos anos, a felicidade vivida, a união, a esperança. Pode ser estúpido, uma série representar tanta coisa, mas ao longo dos anos foi como uma âncora. As pessoas mudam, a vida transforma-se e nada é como era há 10 anos atrás, ou há 8 anos atrás ou mesmo há uns meses atrás. E embora tudo seja radicalmente diferente, posso sempre voltar a ver os Friends e a rir-me à gargalhada com as piadas que já conheço, a sentir a nostalgia, a sentir a esperança que ainda é possível haver amizades assim e que algumas são realmente para sempre.
Lembro-me de momentos que estão vinculados a esta série, guardo-os com estima. No sofá contigo a rir à gargalhada e ainda sem te conhecer bem, por alguma razão esse momento ficou gravado na minha memória. Noutro ano a prenda dela as 10 temporadas, todos os episódios. E depois uma foto de nós os sete com as letras Friends. (Uma coincidência bonita) Lembro-me que estas duas talvez tenham sido as melhores prendas que já recebi na vida e é difícil lembrar-me disso e não chorar. Pois, tu já não fazes parte do meu presente, recordando tudo isto faz-me pensar no porquê de termos deixado de falar. Infelizmente volta depressa as memórias do porquê.
Ao longo dos anos esta série fez-me companhia e faz-me sempre sorrir quando pouca coisa me dá alegria. Neste momento sinto uma dor simbólica. É como uma despedida de várias amizades que ao longo dos anos foram tão importantes e fizeram-me ser quem sou hoje. Mesmo que elas já não sejam uma realidade, outrora foram, e de qualquer forma estou agradecida por elas.
Em breve voltarei a ver o primeiro episódio. Muitas pessoas seguem em frente, mudam de hobbies, conhecem outras pessoas, alteram a sua maneira de ver as coisas, mudam de trabalho, de parceiros, de amigos...
Muita coisa vai mudar ao longo da vida, no entanto, eu vou sempre voltar a gargalhar com cada episódio como se fosse a primeira vez que o estivesse a ver. E talvez a série continue a dar-me esperança e faça-me acreditar de novo na autenticidade das amizades, na sua importância e no seu brilho.
Foi difícil ver o último episódio, porque fez-me lembrar, de uma forma intensa, um momento há 5 anos quando soube que já nada seria como dantes.

À esperança, e às coisas boas que vão aparecendo e ao tentar esquecer o passado e focar-me no futuro. Já vou tarde.

AR

terça-feira, 21 de julho de 2020

Perdoar

As pessoas não são aquilo que nós queremos que elas sejam, elas são aquilo que são.

Digo isto, pensando que ainda não aceitei esta verdade. Sei-a, acredito nela, mas não a aceito.
Com toda a treta que se está a passar no mundo, tantas pessoas a morrer à fome, tanta pobreza, tanta miséria... E eu só vou ao fundo quando penso que, iludidamente, estou só. Não estou realmente só.
A sorte não me preenche. 
Tenho tentado fazer mais com a sorte que usufruo, no entanto, já pensei em desistir várias vezes.
Há dias em que me pergunto, quem é que estou a enganar. Fingir que está tudo bem, sempre foi uma das minhas melhores características.
Sou tão boa nisso que as lágrimas já nem se lembram de aparecer. E tenho momentos que quase me esqueço da tristeza que existe em mim.
Queria conseguir perdoar. Tantas pessoas que queria perdoar. Queria ser leve, não me preocupar com as coisas, sorrir e acenar. Embora saiba que essa não sou eu, essa nunca serei eu.
E magoa. Dói-me para caraças. O desprezo é como uma estalada sem mão.
Gostava de saber valorizar a sorte que tenho, porém, só consigo pensar nas pessoas que deixaram de querer saber, só consigo pensar no vazio. Do nada que é estar aqui e agora.
Volto muitas vezes ao passado para me lembrar de sorrisos, de momentos intensos, sentimentos, emoções, gargalhadas e empatia e tretas. Voltar não me faz sentir melhor, pelo contrário.
Gostava de ser mais leve e abraçar a sorte que sempre tive. Gostava de aceitar a vida como ela é, gostava de aceitar as pessoas como elas são. No entanto, não consigo. Revolto-me de todas as vezes e uma parte de mim quer gritar, chorar, espernear e apontar dedos. Quero tanto apontar dedos... Gostava de ser melhor e de fazer as pazes com o passado, para que pudesse olhar em frente e acreditar mais nas pessoas do futuro. Embora, tantas vezes não confie mais em pessoas nem que o futuro vá ser diferente. Tantas vezes quero dar uma estalada em mim mesma e esquecer o quão sinto tudo tão profundamente.

Tenho também de aceitar-me, fazer as pazes comigo mesma e acreditar que alguém gostará de mim pelo que sou, e eu voltarei a sentir que afinal estar vivo é a história mais bela de todas.

AR