segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

O Movimento

25.05.2018

Dizem que demora 365/6 dias para que a Terra dê uma volta ao Sol. Ao mesmo tempo que vai girando em torno do seu próprio eixo. Um eixo que ninguém vê, ninguém viu e provavelmente nunca ninguém verá. Existem muitos movimentos dentro do movimento. Isso poderá ser um enigma ou um simples facto. Sempre que tento escrever coisas simples a profundidade salta para o meu colo. Não consigo não a embalar ao ritmo de uma melodia. Escolho sempre melodias suaves porque já existe falta de suavidade suficiente na vida. A vida é um bicho curioso, aliás vários bichos curiosos. Busco incessantemente conhecer todos esses bichinhos. Em vão. Não cabe dentro de nós todo o conhecimento. Entre tudo o que poderíamos saber o que realmente me interessa é: Saber apreciar o silêncio, conseguir sentir amor sempre que toco numa árvore, saber escutar o vento, entender a sabedoria da água e do fogo. O tempo não existe para a água e para o fogo. Que bom. Talvez seja devido à noção do tempo que nos perdemos no movimento da vida. Temos pressa porque sabemos que há um fim. Temos medo do fim. A ausência da nossa existência é um buraco negro do qual todos fugimos a sete pés. Fugas. Não queria escrever nada disto, a minha mão tem vontade própria. Assim como ninguém perguntou à Terra se queria continuar a girar à volta do Sol. A lei da atracção. Somos mais do que isso? 

AR

domingo, 13 de janeiro de 2019

Lágrimas

Há muita coisa que ainda não entendi na humanidade. Muitas perguntas sem resposta. Uma delas é porque é que a maior parte de nós não lida bem com o choro? Chorar à frente de outras pessoas parece o fim do mundo, colocam-nos uma etiqueta na testa com adjectivos como: frágil, fraco/a, criança, dependente, entre outros. Todos eles para diminuir as pessoas, todos eles dizendo que chorar não é aceitável dentro do mundo dos adultos.
Tudo isto é ridículo.
Saber que não estou confortável em chorar nem à frente de amigos que conheço há anos deixa-me com vontade de chorar.
Por vezes sinto que mais do que alguém para falar ou alguém para rir precisava de alguém com quem pudesse chorar. Que não fosse estranho ou desconfortável. Que fosse normal como respirar, como dizer uma piada.
Todos nós precisamos de chorar por um pormenor ou por algo mais complexo. Mas quem são as pessoas que sabem oferecer um ombro sem julgar, sem exagerar negativamente no significado do acto?
Não deveria ser tão difícil e no entanto se alguém chora à minha frente congelo, não sei o que fazer nem dizer. A sociedade não nos ensina nem a lidar com os nossos sentimentos e emoções nem a lidar com a dos outros. Parece me que andamos todos cegos, surdos e mudos. Há dias em que a humanidade foge de mim e outros em que me sinto cheio dela, em qualquer dos casos sinto o caos à minha volta. Tantos humanos que já se esqueceram de ser...e talvez eu também já o tenha esquecido.
Hoje está a ser um dia de lágrimas. Mas poucas porque aqui não é confortável chorar. Nem tenho um ombro que me diga: "Estou aqui para ti, vou chorar contigo, vamos chorar até tudo nos doer, até termos libertado todas as lágrimas, até o nosso nariz parecer uma batata, até nos apetecer rir novamente, até..."

AR