Demorei a chegar a este pantamar, e nem sei bem como aqui cheguei. No entanto, sinto agora uma alegria na solidão que nunca antes senti. Estar comigo mesma não tem o peso que outrora tinha. Agora é como se fosse algo precioso. Tenho momentos de pura alegria só por saber que vou estar só. Não sei como é a alegria de se estar acompanhado, não sei se é melhor ou pior. Embora comece a achar que vai ser difícil igualar esta maravilhosa liberdade, a incrível flexibilidade, o espaço em branco que pode tornar-se a qualquer momento o que eu quiser: cinzento, às cores, pequeno, infinito, quadrado ou rectagular... Talvez este seja o meu caminho. É bom ver que me sinto bem com essa resolução.
Gostava de conseguir explicar a infinidade de luzes que vejo a mais agora. Algo mudou no último ano dentro de mim, como se a sabedoria que sempre quis aceitar que tinha, como se o caminho que sempre andei a procurar, como se a paz que sempre pareceu fugir de mim, como se tudo isso culminasse em 2024, tudo isso bateu à minha porta este ano: Olá, diz a sabedoria, ouvi dizer que estavas à minha procura. - Hallo, diz o caminho, cá estou eu. - Oi, diz a paz, está tudo bem agora.
E, hilariante, como não consigo apontar e dizer esta é a sabedoria, foi isto que aprendi. Não consigo dizer este é o caminho, esta é a direção certa nem posso apontar e dizer esta é a paz que almejei, está aqui a fugidia.
Pois, nada é concreto.
Na verdade, a sabedoria sempre teve por aí. O caminho é subjectivo. E a paz, a paz é como um interruptor que não sabias que existia.
Chegada aqui, tenho ideia que talvez não vá ficar aqui para sempre, chegada aqui sinto que é melhor aproveitar cada segundo como se esse segundo imenso não voltasse, pois ele não volta mesmo. A vida tornou-se tão preciosa e ao mesmo tempo tem sido suficiente ficar parada. Nunca pensei que pudesse unir estes pensamentos, sempre pensei que para agarrar a vida precisava de estar em todo o lado e fazer mil coisas. Agora entendo que podemos também agarrar a vida paradinhos no mesmo lugar, a apreciar as pequenas coisas, a trazer uma estabilidade à nossa mente para que ela possa organizar memórias e aclarar prioridades. Tem sido uma viagem interior interessante, mas acima de tudo tem sido fulcral entender que parados e sós também podemos ser felizes.
AR