terça-feira, 29 de maio de 2018

Buraco negro

Querendo acreditar que a vida é mais do que relações humanas, sei agora que não.
Não podemos fugir do que somos. Podemos tentar, de todas as vezes sem sucesso.
Acho que entendi realmente o que me deixa infeliz. 
Este nada que me sufoca sempre que penso no passado.
Este nada que me sufoca sempre que penso no presente.
Este nada que me sufoca por não imaginar um futuro.
É difícil de admitir: Nada sou. Nada tenho. Nada fui. 
Passo os meus dias a fazer um esforço para aceitar o nada. Consigo por momentos, por vezes dias, até ser engolida pelo vazio.
O vazio engole-me tantas vezes que há dias em que me desintegro totalmente.
De todas as vezes tenho um trabalho extenuante a procurar todas as peças e a uni-las outra vez da melhor forma que consigo. 
Este cansaço que me persegue desde que me lembro de existir, é um cansaço denso, um cansaço de quem viveu cem anos e viu de tudo. Um cansaço de quem viu tudo mas não viveu e o que viveu já se esqueceu.
Sei que este vazio está dentro de mim. Quero acreditar que está fora, que é tudo influências externas, tudo culpa de outrém. Quero acreditar que vou ser feliz com o que a sociedade nos faz acreditar que precisamos para ser felizes. No entanto, sei melhor que isso.
 Sabendo pouco, sei que tenho de conseguir lidar com a minha solidão, pois ela foi criada por mim, por várias razões que ainda não sei bem enumerar nem explicar.
Mesmo quando a vida não tinha sentido nenhum, que aconteceu muitas vezes, sempre teve mais do que agora. Sabendo isso, não sei se hei-de chorar, rir, correr, fugir, gritar ou esquecer estes pensamentos que não me levam a lado nenhum e ir dormir.
É, ir dormir parece-me uma boa opção.

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