quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Brasil 💗

 Estava a pensar como é que é possível que há 4 anos não tenha escrito, praticamente, nada sobre o Brasil tendo sido uma viagem tão importante.

Deixo aqui um texto escrito naquela altura com algumas coisas que acrescentei hoje. Pois, voltei a ler os rascunhos que escrevi quando visitei o Brasil e tive tantas saudades que chorei. Chorei como se fosse o meu país, como se já não fosse a casa há 4 anos. 

Sobre o Brasil:

Vim à procura de um abraço, encontrei mais do que isso. Encontrei nesta vossa linguagem cheia de gerúndios a sensação de estar em casa.

A Beleza está na ponta da língua, para dizer que concordo.

Tenho vontade de gravar a vossa voz a dizer: Uai para me lembrar que a primeira vez que a ouvi, respondi como se fosse Porquê.

Estou cansada dos vossos ônibus, espero ver mais trens da próxima vez, mas não boto muita esperança nisso. Embora saiba que vai haver próxima vez.

Ainda não sai desta terra maravilhosa, porém, já tenho saudades.

Saudades dos cariocas, dos paulistas, dos mineiros...

Saudades do cupuaço, do bacuri, da castanha-do-pará...

Saudades da goiabada, das borboletas coloridas, do pássaro bem-te-vi, dos tucanos, dos loros, até dos Urubu, até desses.

Saudades do vosso frio que é quente, dos abraços sentidos, das tapiocas, do açaí...

Vou sentir falta do vosso cumprimento: um abraço e um beijo. Não há cá beijinhos.

Gosto de vocês mesmo quando fazem o troco arredondando, mesmo quando falam alto para deixar mensagem de áudio no whatsapp, mesmo sabendo que há demasiado plástico descartável nestas terras, mesmo com a vossa obsessão pela estética, mesmo que gostem de sertanejo com aquelas letras machistas que não dizem nada de jeito, mesmo que coloquem demasiado açúcar e sal na vossa comida, mesmo que comam muita carne, mesmo assim, gosto de vocês.

A casa-de-banho passou a ser banheiro.

O pequeno-almoço passou a ser café da manhã.

Os atacadores passaram a ser cadarço, singular, pois, exato.

Tu passou a ser você, e bem posso tentar tratar a galera por tu, que muitas vezes não me entendem. 

Então, você, contrariando a minha mente que me diz que você é formal. Aqui não há bem formal e informal, no final de contas, somos todos uma grande família. Não existem muros, barreiras, os tais muros e barreiras que em Portugal tanto gostamos de criar.

Talvez tenha sido essa uma das razões para me sentir em casa. Senti que aqui somos todos iguais. Só muda os pormenores, na alma somos um só.

Se pudesse, levava um bocadinho do Brasil no bolso para todo o lado. Embora, sinta que por ter estado aqui mais de dois meses, é claro que o Brasil está agora tatuado em mim, e que vai moldar a minha pessoa no futuro. Vou levar, sim, o Brasil comigo, somos tão melhores quando conseguimos ser de onde nascemos e também de todos os outros lados.

AR


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