"Se escalasses o maior pico da
maior montanha serias capaz de parar três metros antes e voltar para o
quentinho?
Se fosses à Lua preferias ficar
dentro da cápsula espacial a ver desenhos animados ou a jogar paciências sem
gravidade?
Se fosses campeão do Mundo preferias
ser do Mundo todo ou abdicavas de parte dele só para deixar países de fora da
tua excelência?
Se estivesses quase quase, eras capaz
de dizer “pronto, pronto”?
Se estivesses quase a chegar eras
capaz de dizer “pronto, já chega”?
Se fosses mesmo crente numa coisa
serias só crente na intempérie, na borrasca, na adversidade, na procela, no
desespero?
Não eras capaz de crer também no
céu mais claro a cheirar a terra molhada, no chá para a garganta roufenha, no
sorriso e na vitória?
Ganhar é desconfortável? Faz-te
comichão? Dá-te vontade de voltar para o quentinho e de não espetar a bandeira
no cume mais improvável?
Ganhar abre o problema da
habituação. Se começas a ganhar e a vencer, que é a mesma coisa, tornas-te
repetitivo e depois não sabes fazer outra coisa. E vais ter menos coisas em
comum com quem perde.
Queres um comprimido? Queres um xanax para te acalmar esse punho no ar a
brandir vitórias? Queres um cobertor? Um programa de sábado à noite gravado
para não pensares mais nisso? Queres um cérebro de um babuíno para não veres
mais do que um banana?
Ó pá! Deixa-te de merdas e ganha!
Ganha agora, ganha depois, ganha ontem, ganha sempre.
E se perderes… ganha. E se te
custar ganha. E se não gostarem de ti ganha. E se gostarem ganha. E se
continuarem a gostar ganha. E se te admirarem ganha. E se te desprezarem ganha.
E se fores feio ganha pela beleza. E se fores bonito ganha para ficares feio, e
a cheirar mal e cheio de inimigos, mas vencedor como aquele que faz o seu
destino ao mesmo tempo que faz o resto.
Ganha até que não saibas nada
para além disso. Ganha até que não seja ganhar. Ganha até que seja andar,
respirar ou outra coisa tão real como estar.
E quando te disserem o que quer
que seja tu responderás o que for porque a vitória não tem significado, é
apenas aquilo para que te levantas todos os dias.
E se o sucesso for menos
interessante e enigmático que o falhanço e a tristeza, tens razão. O sucesso é
um sítio simples como tudo o que se percebe… e tu só percebes isto: ganha
sempre até que a vitória seja o início."As saudades que eu tinha do João Negreiros!
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