segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Tamera - A viagem II

Demorei algum tempo a voltar ao que aprendi em Tamera. Talvez porque, infelizmente, Tamera e o mundo cá fora ainda são tão diferentes.
É difícil voltar a Tamera, é difícil pois tudo à nossa volta nos puxa para outro lado. Sei que fisicamente tenho de lá voltar, pois quero ficar com Tamera presente por mais tempo, quero que seja real. Cansada de memórias.

Queria escrever sobre algo interessante que aconteceu em Tamera e que só agora passado tanto tempo estou a deixar por escrito:

 Dentro da comunidade tínhamos o nosso grupo constituído por pessoas que falavam português. O nosso grupo era bastante diverso, tínhamos pessoas a vir de outro continente, homens e mulheres, mais novos e mais velhos, todos com profissões diferentes ou sem profissões, éramos todos muito diferentes, ainda o somos. Porém, os nossos sorrisos eram todos genuínos, tínhamos todos uma mente e alma abertas, queríamos aprender a ser mais. Estávamos todos lá para isso. 

 Os dias foram passando e para mim houve uma pessoa que se destacou mais do que as outras. É difícil explicar o porquê. Apenas sentia que a sua energia era maravilhosa, parecia que emanava um brilho dos poros da pele. Inicialmente achei curioso este carinho quase à primeira vista. Vi nela algo de mim, mas vi mais do que isso. Vi uma ingenuidade pura, a liberdade representada numa pessoa, vi inteligência na sua forma mais simples: sabedoria crua. Vi o que podia ser uma vida inteira de lições e ao mesmo tempo um vazio por preencher. Lembrou-me a minha essência, o que sempre fui, em versão melhorada, tanto fisicamente como psicologicamente.
Tudo isto era novo para mim. Todas estas emoções e sensações vindas de interacções com uma mulher. 
Pensei que estava a ficar louca. E depois pensei melhor. 

 Tamera é o sítio ideal para fazer-te sentir as coisas como elas são e não procurar respostas, sentidos para coisas que não precisam de resposta e não precisam de sentido.
Lá, percebi que o amor vem em todas as formas, por vezes nem vai ser uma questão de sexualidade mas apenas de deixar-mo-nos sentir aquilo que sentimos. Sem rédeas, sem culpas, sem questões metafísicas, sem pensar muito sobre isso. 
Tudo o que seja sentir, não é para pensar. Quando fazemos ambos tudo se destrói. 
 E foi assim, que pela primeira vez na vida pensei que podia amar uma mulher. 
Não sei se poderia ter algo de sexual com ela, mas saber que podia amá-la deixou-me, incrivelmente, aliviada. 
Afinal o amor é tão maior do que aquilo que o restringimos a ser.

 (To be continued)

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